Espetáculo on-line retrata Antônio Abujamra pela primeira vez nos palcos
Nova versão de O Veneno do Teatro coloca pela primeira vez um ator no papel do diretor; peça faz parte da programação on-line do Itaú Cultural
Com apresentações neste sábado (20) e domingo (21), a nova versão do espetáculo O Veneno do Teatro coloca pela primeira vez um ator no papel do diretor e apresentador Antônio Abujamra (1932-2015). A peça é dirigida pela encenadora Márcia Abujamra , sobrinha de “Abu”, e faz parte da programação on-line de Antônio Abujamra – A Voz do Provocador, do Itaú Cultural.
No papel do protagonista, Elias Andreato apresenta trechos de histórias biográficas presentes no espetáculo original criado por Abujamra, além de trechos de vídeos desse e de outros espetáculos dirigidos por ele. “Brincamos de criar o personagem com a possibilidade de ao mesmo tempo explicar quem foi esse artista e demonstrar o Abu que eu, Elias, conheci no teatro”, resume Elias, que chegou a trabalhar com o diretor como contrarregra.
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“Conheci Abu aos 20 anos, foi um encontro muito louco que a gente conta no espetáculo”, diz. “Eu era muito jovem, dei uma entrevista para o jornal falando mal dele, disse que ele era velho, antigo. A reação dele foi inesquecível: me disse que, se eu o respeitasse tendo 20 anos, ele me desprezaria.”
“Quando a Márcia me convidou eu falei que era erro de casting, fiquei surpreso porque não me achava competente pra isso”, continua Elias. “Acho um personagem extremamente teatral e grandioso. Talvez eu fique um pouco na superfície, meu compromisso não é ser Abu, mas sei a importância que ele tem. É preciso existir esse personagem porque hoje tudo é muito árido, reacionário e ele tem esse papel transgressor.”
Para Márcia, esse trabalho foi uma forma de retomar lembranças afetuosas sobre o tio. “Ele foi mais meu pai, já que meu pai mesmo morreu quando eu tinha 7 anos. Ele me pegou pela mão desde sempre e até o fim da vida dele”, observa. Suas produções também são fonte de inspiração – e algumas risadas. “Nas que ele fazia para a televisão, teve um que contava a história de Joana D’arc”, relembra Márcia. “Ela ia para a fogueira, como o texto clássico indica, mas era tudo ao vivo e um problema técnico impediu que a fogueira se acendesse. A câmera se voltou para um ator experiente e, para tentar salvar a apresentação, ele fala ‘ela foi para a forca’. Na TV Tupi, essa foi a primeira vez que Joana D’arc morreu enforcada.”
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A programação inclui, ainda, uma leitura inédita de Um Outro Hamlet, dirigida por João Fonseca e Johayne Ildefonso, e o show do filho caçula, André Abujamra, que homenageia o pai com uma mistura de música, vídeos e irreverência. A iniciativa também é uma homenagem aos 30 anos da companhia carioca Os Fodidos Privilegiados, fundada por Abujamra.