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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Como funciona o trabalho do terapeuta comportamental

Entenda as contingências de reforço

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 14 ago 2017, 17h47 - Publicado em 14 ago 2017, 16h53
 (Reprodução/Veja SP)
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Uma dúvida comum em relação ao trabalho do psicólogo no consultório é sobre como ele trabalha, como ele faz para produzir as condições para as mudanças esperadas pelo paciente.

A depender da abordagem do terapeuta (a linha teórica que ele segue) e dos objetivos combinados entre profissional e paciente no início da terapia, a mudança pode ser no repertório comportamental, nas emoções e sentimentos ou mesmo na consciência (sobre si ou sobre o ambiente) – o que não implica necessariamente em uma mudança nos comportamentos ou nas emoções. Vou falar aqui especificamente de como o terapeuta analítico-comportamental, ou simplesmente terapeuta comportamental, trabalha.

O objetivo primordial da terapia comportamental é a mudança no repertório de comportamentos do paciente. Essa necessidade de mudança chega para o terapeuta, na maioria das vezes, como uma queixa relativa a sentimentos e emoções negativos… mas também como uma queixa explícita de comportamentos mal adaptados.

A tarefa do terapeuta comportamental é ajudar o paciente a entender como aqueles sentimentos negativos e situações inadequadas são produzidos.

Para isso ele lança mão do principal recurso da terapia comportamental: a análise funcional. Trata-se de identificar as relações funcionais entre o comportamento do indivíduo e o ambiente. Em outras palavras, definir o que acontece em função de quê… o que causa o quê.

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Para entender a razão pela qual um comportamento ocorre, o terapeuta sempre vai olhar para os antecedentes e para as consequências daquele comportamento. Um comportamento só ocorre de forma recorrente porque as consequências que ele produz quando ocorre em certas situações (antecedentes) reforçam esse comportamento. Por exemplo, colocar a moeda (comportamento) em uma máquina de refrigerantes ligada (antecedente), produz acesso à bebida escolhida (consequência).

Uma vez que o comportamento se repete em situações similares no futuro, dizemos que a liberação do refrigerante reforçou o comportamento de colocar a moeda na máquina quando ela está ligada. O mesmo comportamento efetuado diante de uma máquina de café não produzirá refrigerante. É assim que o ambiente seleciona os comportamentos dos indivíduos.

Este é um exemplo simples, mas podemos aplicar o mesmo princípio em relação a qualquer comportamento que seja de interesse num processo de terapia. Na verdade, o mesmo princípio se aplica a qualquer comportamento.

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O senso comum tende a estabelecer um status de causa a eventos privados do sistema nervoso. Por exemplo, diante de alguém chorando, tendemos a dizer que a pessoa está chorando porque está triste. Ao formular a frase dessa maneira, estamos supondo que existe uma entidade dentro do cérebro da pessoa chamada tristeza e esta entidade causou o choro naquela pessoa. Este é um equívoco que afasta a descoberta da real causa.

Só podemos inferir que a pessoa está triste justamente porque a vimos chorando, ou seja, a tristeza é o próprio choro e não a sua causa. Assim, se quisermos saber porque a pessoa está chorando (rótulo: triste), temos que procurar no ambiente os antecedentes que produziram aquele choro e, dado que se trata de um comportamento, que consequências esse choro produz no ambiente.

Exceto por casos de relação direta causa-consequência, como quando alguém chora como uma reação imediata a um evento antecedente (por exemplo a morte de alguém próximo), o que se descobre é que aquele choro pode ser um padrão recorrente do comportamento daquele indivíduo diante de certas condições. Este choro recorrente pode, por exemplo, produzir ganho de atenção de alguém próximo. Embora pareça interessante, ganhar atenção por estar voluntariamente mal produz outras consequências ruins. É assim que se estabelecem repertórios comportamentais mal adaptados.

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O terapeuta comportamental deve ajudar o paciente a identificar as relações funcionais entre comportamento e ambiente e ajudá-lo a estabelecer novas formas de respostas diante daquela situação que é foco da intervenção.

A noção de reforço é bem abrangente e qualquer padrão comportamental é passível de análise na base da tríplice contingência (antecedentes-comportamento-consequências). A terapia comportamental é, neste sentido, também um processo educativo no qual o paciente se apropria parcialmente das ferramentas utilizadas na terapia a fim de, ele próprio, passar a fazer análises das contingências de seu interesse.

As aplicações do método são amplas e vão desde o adestramento de animais até metacontingências influenciando o repertório comportamental de grandes grupos de pessoas (funcionários de uma empresa, alunos de uma escola, a própria sociedade…). Mas o objetivo geral da terapia comportamental não é ensinar o paciente a influenciar outras pessoas em benefício próprio. Pelo contrário, é ensiná-lo os princípios gerais das leis do comportamento com o objetivo de promover o bem-estar, de si, de quem está próximo e, em última análise, da sociedade como um todo.

Saber como a terapia comportamental funciona é um jeito de desmistificar o trabalho do profissional (nada mais é que ciência aplicada) e promover a autonomia individual, além de potencializar os resultados do processo terapêutico.

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