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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Diário comportamental: decifre seu modo de agir de uma maneira simples

A prática pode ajudar a minimizar o sofrimento

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 16 abr 2018, 13h57 - Publicado em 16 abr 2018, 12h54

Parte central do trabalho do analista do comportamento (também conhecido como terapeuta analítico-comportamental ou simplesmente terapeuta comportamental) é ajudar o paciente a identificar as relações entre seu comportamento e o ambiente. O objetivo é modificar o repertório de modo a produzir interações melhor adaptadas e a cessar o sofrimento emocional.

Existe um conjunto de técnicas clínicas que o psicólogo utiliza para ajudar o paciente a alcançar tais objetivos de mudança comportamental mas, independentemente das técnicas utilizadas, sempre serão escolhidas a partir da análise das relações entre o comportamento e o ambiente (análise funcional). Ao longo da terapia, o analista do comportamento está constantemente olhando para o repertório do paciente com o filtro da análise funcional, seja a partir do relato do próprio comportamento, seja a partir de eventos a ele relacionados, tanto internos (emoções e sentimentos) quanto externos (antecedentes ambientais e os efeitos do comportamento produzidos no ambiente). É desta forma que se identificam as causas de um comportamento ou de um sofrimento emocional na terapia comportamental.

Uma coisa bacana é que, independentemente da terapia, a ideia essencial desta estratégia de trabalho do terapeuta comportamental pode ser aplicada no cotidiano por todas as pessoas. O modo mais simples de se fazer isso é registrar eventos importantes em um diário comportamental que contemple os aspectos que formam uma dada situação. Ao registrar os eventos de forma sistemática, é possível entender melhor as relações entre comportamento, ambiente e emoções.

Muito do sofrimento emocional pode ser minimizado se as pessoas aprenderem a fragmentar as situações em seus componentes e a entender como seu comportamento modifica o ambiente e é por ele influenciado. O diário comportamental é, portanto, uma ferramenta bastante útil para todos que queiram superar uma angústia. Vejamos como funciona.

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O diário possibilita registrar uma situação problemática identificando cada um de seus componentes, tanto do indivíduo que se comporta quanto do ambiente. Aqui está um exemplo:

(Veja São Paulo/Veja SP)

Vamos entender cada item do diário comportamental.

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A SITUAÇÃO é simplesmente a descrição do que ocorreu. Serve para ajudar a pessoa a referenciar no espaço e no tempo o que ela registrará a seguir.

As SENSAÇÕES dizem respeito ao que acontece no corpo como resultado da situação registrada. São respostas fisiológicas ao evento estressante/angustiante.

Já os SENTIMENTOS têm um caráter subjetivo. São nomeados normalmente como tristeza, ansiedade, raiva, medo e assim por diante. Não há um aspecto objetivo como no caso das sensações e são completamente involuntários.

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Diferentemente dos sentimentos, os PENSAMENTOS são completamente voluntários, ou seja, a pessoa tem controle consciente sobre eles. Registrá-los permite compreender os próprios valores e crenças. Isso é importante porque, quando eles são confrontados, fatalmente gera-se estresse e desconforto.

Registrar COMO SE COMPORTOU permite entender de que forma os antecedentes externos (situação) e internos (sensações, sentimentos e pensamentos) estabeleceram as condições para que o comportamento ocorresse de tal forma.

Finalmente os RESULTADOS representam as consequências que o comportamento produziu no ambiente. São essas consequências que vão determinar a previsão de ocorrência futura do mesmo comportamento.

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Para transformar uma situação como a exemplificada na tabela, é importante saber que não se pode mudar nem os sentimentos e nem as sensações, já que são efeitos involuntários diretos de algo ocorrido no ambiente.

Os pensamentos, embora voluntários, apresentam forte resistência a mudança, de modo que querer transformar toda a situação a partir de mudanças no sistema de pensamentos tende a ser improdutivo e frustrante. Um exemplo dessa tentativa a partir da situação relatada na tabela seria o indivíduo passar a se esforçar para formar pensamentos alternativos: “Apesar de estar me criticando gratuitamente, ele me ama.” Ou “eu sei que dirijo tão bem quanto ele.” Ou ainda “eu não deveria sentir raiva porque ele está agindo assim por estar chateado.”.

Embora pensamentos alternativos tenham um efeito imediato reconfortante e até possam ampliar a motivação para uma transformação, pouco produzem de mudanças na situação de fato, principalmente porque ocorrem de forma privada no cérebro da pessoa. Pensamento não muda o ambiente.

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O que de fato modifica o ambiente e, consequentemente, as sensações e sentimentos desencadeados por ele, é o comportamento. Diante de uma dificuldade é essencial variar o comportamento para que produza consequências diferentes no ambiente. No exemplo da tabela uma alternativa comportamental seria dizer para o irmão: “Obrigado pelas dicas de direção. Vou me esforçar para melhorar. Agora… tem algo que esteja incomodando você?”

Esta fala é radicalmente diferente da postura registrada. Primeiro ela não ignora o fato de haver um incômodo por parte do irmão. Isso é importante porque fazer de conta que algo ruim não está presente gera ainda mais sentimentos negativos e, consequentemente, mais comportamentos inadequados que só agravam o problema. Em segundo lugar, ela abre uma possibilidade de diálogo e de resolução.

Diante de uma fala como essa é mais provável que o irmão relate mais claramente o que está gerando incômodo para ele e, se uma solução conjunta for construída, certamente deixará de criticar o modo como o irmão dirige e as emoções negativas também desaparecerão. Ninguém deixará de ir na festa de ninguém e, a bem da verdade, o vínculo se tornará ainda mais forte e prazeroso para ambos.

Esta estratégia serve para qualquer pessoa no dia-a-dia mas obviamente não exclui a terapia como caminho adequado de suporte quando o sofrimento prejudica o cotidiano.

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