Demência de Alzheimer: prevenir ainda é o melhor caminho
Quando, em 1906, o médico alemão Alois Alzheimer descreveu o caso inédito de uma mulher com demência associada à presença de placas e corpos fibrosos cerebrais, o caso chamou a atenção da sociedade pelo fato de a paciente (Auguste Deter, então com 51 anos) nunca ter contraído sífilis, que era a principal causa de demência […]
Quando, em 1906, o médico alemão Alois Alzheimer descreveu o caso inédito de uma mulher com demência associada à presença de placas e corpos fibrosos cerebrais, o caso chamou a atenção da sociedade pelo fato de a paciente (Auguste Deter, então com 51 anos) nunca ter contraído sífilis, que era a principal causa de demência no início do século XX.
O que estava acontecendo era consequência do início de um processo que é o aumento (ainda em curso) da expectativa de vida do ser humano. Quando se morria aos 35 anos, em média, não havia tempo para o surgimento de quadros demenciais não secundários a infecções e traumas. Hoje não é um absurdo cruzar um século de vida, de modo que a maior longevidade impõe à espécie ter de enfrentar doenças degenerativas próprias do envelhecimento.
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Não se pode ignorar que a natureza nos impõe forças desagregadoras desde o nosso nascimento que buscam equilibrar as energias do ambiente. O que acontece é que fazemos frente a essas forças mantendo nosso metabolismo sempre ativo. Invariavelmente a natureza nos vence.
A maior expectativa de vida é apenas nossa capacidade de adiar minimamente o término desse enfrentamento. Portanto quanto mais velhos nos tornamos menos somos capazes de manter o equilíbrio dinâmico contra as forças desagregadoras da natureza em favor da manutenção de nossas vidas. O cérebro, por sua complexidade, passa a ter sua eficácia diminuída com o passar dos anos, o que resulta inevitavelmente em algum processo degenerativo.
O mal de Alzheimer é uma demência (perda de funções cognitivas: linguagem, atenção e memória) representada por um prejuízo na capacidade de consolidação da memória declarativa em função da morte de neurônios no córtex entorrinal, no hipocampo, no locus coeruleous e no núcleo basal de Meynert (neurônios cujo principal neurotransmissor é a acetilcolina).
A evolução tem três estágios. Na fase leve há perda de memória recente, confusão de linguagem, desorientação no tempo e no espaço, agressividade e depressão. Na fase moderada podem surgir esquecimento de fatos vividos e nomes de pessoas e ocorre também uma incapacidade de realizar tarefas do cotidiano (cozinhar, fazer compras etc.), confusão mental e alucinações. Finalmente na fase grave a memória está profundamente prejudicada (amnésia para fatos antigos e incapacidade de consolidar novas memórias), incontinência urinária e fecal, dificuldade em reconhecer pessoas próximas e até mesmo se reconhecer, além de prejuízos motores.
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Embora se conheça bem a rede cerebral associada à doença, não há cura para o Alzheimer e, ainda que se saiba que há influência genética na determinação da patologia, tampouco se sabe sua causa.
Um dado incômodo é que a correlação entre a extensão dos danos cerebrais e a gravidade da demência nem sempre existe. Em um grupo de pessoas com danos parecidos apenas uma parcela desenvolve o mal de Alzheimer. Uma das questões atuais para a neurociência é exatamente entender o porquê disso.
Os tratamentos medicamentosos têm eficácia bastante limitada e, portanto, a prevenção continua sendo o melhor caminho para evitar sofrer as consequências do mal. Estima-se que haja 35 milhões de pessoas com Alzheimer no mundo (1,2 milhão no Brasil: sendo metade sem diagnóstico e sem tratamento). A OMS prevê que esse número irá triplicar até 2050, principalmente pelo aumento da expectativa de vida e pelo aumento na proporção de idosos na população.
É essencial, portanto, que possamos aprimorar a prevenção do Alzheimer bem como de todas as demências. A doença normalmente surge após os 65 anos de idade mas há casos mais raros determinados geneticamente que iniciam seu curso mais cedo, como é o caso retratado no filme Para Sempre Alice.
A regra básica para evitar, adiar e minimizar o Alzheimer é estimular o cérebro a se desenvolver o máximo possível. Saber mais de um idioma ou tocar algum instrumento são características correlacionadas com menor velocidade do agravamento das demências. Ter atitude positiva diante dos problemas, estabelecer objetivos vinculados a um propósito de vida e possuir ampla rede de vínculos sociais (não virtuais) representam uma diminuição da chance de desenvolver Alzheimer a menos da metade.
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Também ajudam a evitar e a retardar o Alzheimer a manutenção de uma alimentação saudável e a prática de atividade física. Isso quer dizer que temos de nos manter ativos o máximo possível ao longa da vida e jamais deixar de aprender novas habilidades.
Uma da melhores fontes para quem quer mais informações sobre a doença e também para quem necessita de algum tipo de apoio é a Associação Brasileira de Alzheimer.
Confira um bate-papo sobre o assunto que tivemos ao vivo na redação de VEJA SÃO PAULO: