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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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A “brincadeira” que viralizou, da filha que mente sobre ser lésbica para a mãe em vídeo, é de extrema violência

No início desta semana, viralizou na rede o vídeo de uma “brincadeira” aparentemente combinada entre pai e três filhas para enganar a esposa. O vídeo foi feito sem que a mulher soubesse, com câmera escondida. A situação é a seguinte. A família está reunida na cozinha. Uma das filhas publicou uma foto ao lado de […]

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 25 fev 2017, 21h09 - Publicado em 21 nov 2016, 21h45
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No início desta semana, viralizou na rede o vídeo de uma “brincadeira” aparentemente combinada entre pai e três filhas para enganar a esposa. O vídeo foi feito sem que a mulher soubesse, com câmera escondida.

A situação é a seguinte. A família está reunida na cozinha. Uma das filhas publicou uma foto ao lado de uma menina – talvez beijando – para dar a entender que ela é homossexual. Em algum momento (o vídeo tem um corte), a mãe fica sabendo que se trata de uma “brincadeira” mas diz que não se brinca com isso. Como consequência da atitude errada, ordena que a filha lhe entregue o celular para que fique sem ele por um tempo, com uma espécie de castigo.

Não existe “dar um tempo” no relacionamento

A partir desse ponto, as filhas e o pai alternam falas e risadas ridicularizando a mulher. Ela insiste para que a filha lhe entregue o celular, sempre sem sucesso. O estado de ansiedade e raiva da mulher evoluem para um quadro de completa desorientação e descompensação emocional. Ela ameaça arremessar um prato na direção da filha. Chega a dizer que vai matá-la e a apontar uma faca em sua direção, tendo de ser contida fisicamente pelo marido e por uma outra mulher que entra posteriormente na cena.

Li os comentários na postagem original e em vários compartilhamentos. O aspecto predominante que chocou os espectadores foi a constatação de que a mulher não aceitaria a orientação sexual da filha. Claro que a visão da mãe sobre a questão não é legal mas, tão chocante quanto tal postura, é a insensibilidade da comunidade de espectadores.

Eu fiquei constrangido logo no início do vídeo e me entristeci conforme a sequência evoluía. A chamada brincadeira feita com a mãe é um tremendo erro que desumaniza fortemente o alvo da ação, quem a praticou e quem a assistiu. A chamada brincadeira é uma enorme violência contra esta mulher.

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Esta violência foi amplificada pelo fato de a cena ter sido filmada sem que ela soubesse, depois novamente amplificada quando o registro foi divulgado na web e novamente a cada vez que alguém o compartilha. Se uma brincadeira explora uma vulnerabilidade de outra pessoa, não se trata de brincadeira mas sim de violência. Não existe meio termo.

Hoje mesmo denunciei o vídeo aos moderadores como conteúdo impróprio. Espero que ele seja realmente retirado. Embora este exemplo seja patente de uma família desestruturada e necessitada de apoio, ele também explicita o quanto temos dificuldade às vezes em desenvolver empatia, respeito e solidariedade. Não compartilhe este vídeo se ele chegar até você e, se você já o compartilhou, reflita e apague a postagem. Isso vale para qualquer “brincadeira” (violência!) parecida, como divulgar imagens de estudantes atrasados para o Enem etc. Empatia, respeito e solidariedade.

PS: Não coloco o vídeo aqui pelos motivos citados acima.

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