Louise Cardoso, senhora tragicômica em “Velha É a Mãe!”
Louise Cardoso transita entre o drama e a comédia como raras atrizes brasileiras. Foi popularizada pelos tipos engraçados da televisão, principalmente aqueles do humorístico “TV Pirata”, entre 1988 e 1989, e, no cinema, criou uma Leila Diniz vigorosa na biografia da musa de Ipanema dirigida por Luiz Carlos Lacerda em 1987. No teatro, porém, ela […]

Louise Cardoso transita entre o drama e a comédia como raras atrizes brasileiras. Foi popularizada pelos tipos engraçados da televisão, principalmente aqueles do humorístico “TV Pirata”, entre 1988 e 1989, e, no cinema, criou uma Leila Diniz vigorosa na biografia da musa de Ipanema dirigida por Luiz Carlos Lacerda em 1987. No teatro, porém, ela encontrou espaço desde cedo e participou de trabalhos densos como “Um Bonde Chamado Desejo” e “Rosa Tatuada”, de Tennessee Williams, além de “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos. Essa versatilidade sempre cultivada pela artista carioca serve de base para fazer a comédia “Velha É a Mãe!”, em cartaz no Teatro Folha, ultrapassar o limite de um simples divertimento.
Com uma temática interessante, mas no limite da caricatura, a montagem é centrada em uma mulher que já fez 70 anos e insiste em aparentar, no máximo, uns 50. Para isso, ela passa horas na academia, recorre às plásticas e aplicações de botox, faz dança de salão e luta boxe. O esforço irracional pela juventude liquida seu casamento, e o marido a troca por outra que, pasmem, já passou dos 80. Uma conversa com a filha (defendida com garra pela atriz Eliane Costa) deixa claro seu descontrole emocional e dá início a um embate, muitas vezes com cara de monólogo, o que só reforça o estado psicológico dessa senhora tragicômica. E, nesse caso, Louise faz a diferença. Principalmente por entender – e repassar – o que é dito além daquelas piadas.
Muito bem aproveitados pela direção de João Fonseca, o talento e o carisma da intérprete valorizam e conferem contornos de comédia de costumes ao texto escrito por Fábio Porchat. Os diálogos certeiros levam a trama do catastrófico ao escrachado com espantosa agilidade sem que caia na vulgaridade ou no exagero das peças caça-níqueis. Uma prova dessas sutilezas aplicadas pela direção são os minutos finais. O destino da protagonista transforma-se em uma incógnita, gerando um clima de tensão, com uma pitada de melancolia. A opção por um desfecho embalado pela canção “Rock and Roll Lullaby”, sucesso conhecido na voz de B.J. Thomas e fenômeno da trilha da novela “Selva de Pedra” (1972), suaviza o clima propício para a tragédia e amplia as possibilidades de leituras. Seja qual for sua interpretação, ali “Velha É a Mãe!” confirma a proposta de um divertimento leve e até de, quem sabe, emocionar o público na saída do teatro.
Leia entrevista com Louise Cardoso.