Grupo Folias coloca o gênio na balança em “Folias Galileu”
Prepare-se para uma pequena excursão. Sentado realmente você vai ficar pouco nos quase 120 minutos de duração de Folias Galileu, a nova montagem do Grupo Folias. Inspirados na peça Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, o diretor Dagoberto Feliz e o time de 23 atores recontam a história do italiano que, com base em observações de […]

Prepare-se para uma pequena excursão. Sentado realmente você vai ficar pouco nos quase 120 minutos de duração de Folias Galileu, a nova montagem do Grupo Folias. Inspirados na peça Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, o diretor Dagoberto Feliz e o time de 23 atores recontam a história do italiano que, com base em observações de seu telescópio, descobriu que a Terra gira em torno do Sol. Perseguido pela Igreja Católica, o físico e astrônomo Galileu Galilei (1564-1642) renegou sua ciência para salvar a própria vida. E, nesse momento, entra em cena o homem. Ele que tem mãe, filha, inimigos e outras pessoas que pagam direta ou diretamente por suas ideias.
Os oitenta espectadores são divididos em grupos e passeiam pelas dependências da sede da companhia, localizada na Rua Ana Cintra, bem debaixo do Minhocão. A fachada, a portaria, o banheiro, o café, o camarim, o deposito de figurinos… Até o bar que fica do outro lado da rua. Tudo serve de ambientação para os 14 monólogos e 16 cenas que enfocam os embates pessoais e intelectuais do gênio, e o público, como se fosse um juiz da Inquisição, desenvolverá o veredicto com base nos depoimentos ouvidos. Na sua cabeça, longe dali, pensando e repensando.
Família, amigos, opositores, representantes do clero e da aristocracia subvertem a exatidão e expõem seus interesses em relação à Galilei. O ótimo time de atores, que inclui Bete Dorgam, Carlos Francisco, Flavio Tolezani, Nani de Oliveira e Rodrigo Scarpelli, entre outros, faz com que cada uma dessas cenas se descortine para o espectador como uma peça diferente e, entre a reflexão e a criatividade, o Folias reafirma sua relevância. Cria mais um espetáculo e inquieta o público com sua mensagem. Além disso, o grupo sustenta a preocupação visível de inventar – para alimentar a fantasia daqueles que procuram teatro. Tudo sem frescura, humanista e social. Bem Brecht.
Bete Dorgam (ao centro) e a representação da aristocracia (Fotos: Cacá Bernardes)