André Grecco estreia “A Dama da Noite” e comenta cinco contos fundamentais de Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Abreu se foi em 25 de fevereiro de 1996, aos 47 anos, mas deixou sua voz ecoando na cabeça de sucessivas gerações que vivenciam conflitos resistentes ao tempo. Um de seus mais conhecidos contos, “A Dama da Noite”, publicado em 1984, ganha versão teatral protagonizada pelo ator paulistano André Grecco, de 33 anos. […]

Caio Fernando Abreu se foi em 25 de fevereiro de 1996, aos 47 anos, mas deixou sua voz ecoando na cabeça de sucessivas gerações que vivenciam conflitos resistentes ao tempo. Um de seus mais conhecidos contos, “A Dama da Noite”, publicado em 1984, ganha versão teatral protagonizada pelo ator paulistano André Grecco, de 33 anos. O monólogo é centrado em uma mulher que conduz uma conversa com um garoto no balcão de um bar e desabafa sobre suas angústias e frustrações.
+ Eva Wilma e Nicette Bruno ensaiam “O Que Terá Acontecido a Baby Jane?”.
Dirigida por Kiko Rieser, a montagem estreia na quarta (13), às 21h, no Caos Bar, na mesma Rua Augusta que tanto já inspirou Caio, com ingressos a R$ 20,00. André Grecco selecionou outros cinco contos do escritor gaúcho que o emocionam e comentou um pouco para a gente.
+ Álamo Facó e os últimos dias de Marpe no monólogo “Mamãe”.
Os Sobreviventes (1982)
“Um ex-casal, ele hoje gay e ela hoje lésbica, passa a limpo sua vida conjugal, expondo o vazio e o inconciliável hiato entre eles. A característica mais interessante do conto é que eles travam um diálogo em que as duas vozes se confundem, ora amalgamando, ora conflitando seus pontos de vista.”
Linda, Uma História Horrível (1988)
“Filho volta à casa da mãe para contar que está morrendo em decorrência da Aids, mas não consegue fazê-lo. O ponto de vista sobre a própria condição é o mais bonito da história. Espelhando-se na deterioração do que está à sua volta – a mãe idosa, a casa mofada, os móveis quebrados, a cachorra cega e suas próprias nódoas na pele –, o personagem percebe a efemeridade de tudo e adquire um novo olhar sobre o horror e a beleza.”
Para uma Avenca Partindo (1975)
“Na iminência da partida da mulher amada, um homem tenta encontrar palavras para falar algo a ela e acaba dizendo tudo o que nunca foi dito entre os dois. Ele revela como o seu sentimento por ela, plantado para ser algo pequeno, como uma avenca, acabou crescendo e adquirindo dimensões insuspeitadas, tomando todos os espaços de sua vida. Um jorro poético de imagens preciosas.”
Sob o Céu de Saigon (1989)
“Em um cinema da Rua Augusta, um garoto e uma garota travam um brevíssimo diálogo sobre um tema muito improvável, o céu de Saigon. Apesar de profundamente semelhantes e se interessarem um pelo outro, eles acabam, por timidez, inabilidade ou inércia seguindo o rumo de suas vidas sem convergi-las. Assim como em ‘Tentação’, de Clarice Lispector – uma das autoras favoritas de Caio –, a possibilidade de um encontro que ecoe pra além do instante é solapada por contingências diversas da vida. Algo cotidiano, de identificação fácil, mas tocante.”
+ “Amadores” volta em sessões gratuitas.
Aqueles Dois (1982)
“Dois homens se conhecem em uma repartição e iniciam uma intensa amizade. Sem se dar conta da possibilidade de um erotismo latente, eles passam a ser alvo de comentários maldosos dos colegas que acabam por levar à demissão de ambos. Assim como a suposta traição de Capitu em ‘Dom Casmurro’ ou mesmo a indefinição de gênero da narradora de ‘Dama da Noite’, Caio filia esse conto à tradição da dúvida, com uma história atual e potente de amor – qualquer que seja sua forma – e preconceito.”
Quer saber mais sobre teatro? Clique aqui.