“A Festa de Abigaiu”: as histórias da trilha sonora da peça contadas pelo diretor Mauro Baptista Vedia
Escrita em 1977, a comédia “A Festa de Abigaiu”, de Mike Leigh, estreou na cidade em 2007 e fez sucesso de público. Agora, volta ao cartaz no Teatro Jaraguá no dia 6 de agosto com o elenco original. A trama mostra um encontro de vizinhos. Beverly e Lawrence (vividos por Ester Laccava e Eduardo Estrela) recebem […]


“A Festa de Abigaiu”: Eduardo Estrela, Fernanda Couto, Ester Laccava e Kiko Vianello (Foto: João Caldas)
Escrita em 1977, a comédia “A Festa de Abigaiu”, de Mike Leigh, estreou na cidade em 2007 e fez sucesso de público. Agora, volta ao cartaz no Teatro Jaraguá no dia 6 de agosto com o elenco original.
A trama mostra um encontro de vizinhos. Beverly e Lawrence (vividos por Ester Laccava e Eduardo Estrela) recebem um casal e Susan, a mãe da adolescente Abigaiu — que aproveita a casa vazia para dar uma festa. A rodada de drinques vira um embate revelador da moral de cada um. Ana Andreatta, Fernanda Couto e Kiko Vianello completam o time de atores dirigido por Mauro Baptista Vedia.
+ Leia entrevista com Mauro Baptista Vedia.
Quem viu “A Festa de Abigaiu” provavelmente recorda de sua deliciosa trilha sonora. Convidei Mauro Baptista Vedia, de 52 anos, para comentar um pouco as principais canções que você pode ouvir durante o espetáculo e, aqui, entendemos melhor a razão de tudo ter ficado tão legal.
Demis Roussos com “Velvet Mornings”
“Pensei a trilha de ‘A Festa de Abigaiu’ da seguinte forma: os adultos ouvem música pop que teve o auge na Europa, entre os anos 60 e 1977. Já os jovens, que estão na festa da Abigaiu, gostam da música que, em 1977, estava chegando às paradas: o punk.”
“Demis Roussos é uma lembrança muito forte da minha infância em Barcelona, na Espanha. Ele era o rei da televisão. Aquele grego, “de voz fina”, diria o personagem Lawrence (interpretado por Eduardo Estrela), dominava a cena com longas túnicas, cabelo muito comprido, uma voz fina e uma figura abundante. Esta música é a cara do pop europeu dos anos 70 que passava na televisão europeia.”
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Tom Jones com “Delilah”
“Tom Jones era um dos cantores favoritos do meu pai e da minha mãe. Dono de uma voz absolutamente privilegiada, que não passa despercebida para ninguém. Quando, nos anos 60 e 70, ele cantava na televisão se balançava na frente da plateia e sacudia seus cabelos para que as mulheres tocassem os cachos. Jones, como Demis Roussos, é tipo de cantor que personagem Beverly (papel da Ester Laccava) poderia gostar. E é o “Tigre de Gales”, como diz o texto. E é algo bem britânico. No texto, está “She´s a Lady”, mas coloquei Delilah, com mais destaque para fazer da peça uma comédia com vários números musicais.”
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Engelbert Humperdinck com “Release me”
“Humperdinck era um cara que rivalizava com Tom Jones, mas com um estilo mais romântico e mais uniforme. É um cantor bem inglês, nascido na Índia, com uma voz privilegiada. “Release me” é seu grande hit. É outra música que me lembro da minha infância, na Espanha, quando a gente viajava pela Catalunha e pelo sul da França ouvindo Humperdinck em uma fita em um velho Renault 4. Na peça, a música dá um tom de sonho, de uma viagem no tempo, para algum lugar que parece ter sido esquecido na década de 70.”
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Elton John com “Sorry Seems To Be the Hardest Word”
“Na peça, aqui a música e letra são perfeitas para o momento de enfrentamento do casal protagonista, Beverly e Lawrence. Enquanto outras funcionam como contraponto humorístico, esta música tem uma função eminentemente dramática. E é um Elton John da época, não um Elton John posterior que fomos construindo posteriormente via internet.”
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The Clash
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“Para a trilha da festa oferecida pela personagem Abigaiu, filha de Susan (vivida por Fernanda Couto), pensei, em 2007, três décadas depois da primeira montagem na Inglaterra, que devia construir uma trilha representativa das novas gerações e que fosse historicamente anterior a 1977. Nada melhor do que o punk e do que me parece foi o melhor grupo deste estilo e movimento, The Clash. Gosto muito de The Police, mas não era punk. ‘London´s Burning’ traduz muito bem a irreverência e a atitude agressiva dessa geração de jovens ingleses dos anos 70.”
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