#SPSonha: a substituição dos muros aumentou o público do Parque Ceret
Em 2014, uma grande construtora e investidora do bairro fez uma proposta de mudança à prefeitura
Qual será a relação entre a epidemia de furtos nos cemitérios paulistanos e seus muros altos ao redor? Simples: não há chance de quem está na rua poder ver algum movimento estranho que aconteça atrás do muro. O meliante tem a paz celestial para ficar carregando bustos ou esculturas, bem escondido. A São Paulo que acha que quanto mais alto o muro maior a segurança nunca pensou que, na verdade, está dando uma ajudinha aos bandidos. Nem os vizinhos ficam sabendo o que se passa atrás de uma fortaleza.
O exemplo oposto é o da transformação do Parque Ceret, no Tatuapé. Com 286 000 metros quadrados (mais que o dobro da área do Parque do Povo, no Itaim), ele era cercado por um alto muro, deixando as calçadas ao redor com aquela sensação de insegurança que os lugares ermos produzem, e o parque ficava incógnito.
Até que, em 2014, a maior incorporadora e construtora do vizinho Jardim Anália Franco, a Porte, fez uma proposta à prefeitura. Se os altos muros fossem demolidos, a empresa patrocinaria a colocação de gradil em todo o perímetro do parque. A negociação até que foi rápida para os ritmos da burocracia municipal — e em menos de um ano, em 2015, o parque já estava visível a quem olhasse de fora, deixando o bairro mais verde e seguro. Foi um investimento ganha-ganha para os dois lados. Ao colocar 800 metros de grades, a um custo corrigido de 700 000 reais (com projeto e mão de obra), a Porte valorizou o bairro onde lança seus empreendimentos (e marketing positivo nunca dói). A visitação do lugar disparou: de uma média de 7 500 pessoas por dia nos sábados e domingos, foi para 15 000.
Ainda na gestão do então prefeito Fernando Haddad, o Cemitério São Luís, na Zona Sul da cidade, também teve seu muro substituído por grades. Haddad prometeu fazer o mesmo no Cemitério da Consolação, mas a troca nunca aconteceu. Por isso, o #SPSonha já imagina o impacto na vida dos milhares de pedestres (e motoristas presos em congestionamentos) que pudessem ver diariamente, sem esforço, as árvores robustas de necrópoles tão verdes quanto a da Consolação, Araçá, São Paulo (aquele entre Pinheiros e Vila Madalena), Lapa e tantos outros. Deixariam de ser tão escondidos.