#SPSonha: arquitetos planejam conjuntos habitacionais mais modernos
Mario Biselli e Artur Katchborian já projetaram habitações com conceito mais funcional em Heliópolis
Depois de uma década, e mais de 300 bilhões de reais investidos, do programa Minha Casa Minha Vida, é fácil perceber que a habitação popular no Brasil não melhorou muito. O finado Ministério das Cidades tinha pouco foco em urbanismo, a qualidade da moradia ficou em quinto plano e os conjuntos habitacionais financiados com dinheiro público tinham vícios antigos: apartamentos sempre do mesmo tamanho, o que engessava o perfil dos moradores; veto a atividades comerciais no térreo, criando bairros inteiros exclusivamente residenciais, sem empregos nem serviços à mão; escolha do metro quadrado mais barato, levando esses empreendimentos para áreas longínquas, sem transporte.
Uma experiência de pequena escala, desenvolvida na época do então prefeito Gilberto Kassab, mostra como a moradia para a baixa renda poderia ter sido concebida de forma diferente. A foto no alto desta página é de um conjunto popular em Heliópolis (tem mais cor e atenção aos detalhes que muitos empreendimentos para a classe alta na Vila Nova Conceição ou no Itaim). Os autores do projeto são os veteranos arquitetos Mario Biselli e Artur Katchborian, ambos formados pelo Mackenzie.
O condomínio tem 420 apartamentos e recria uma quadra tipicamente europeia: sem recuos laterais ou na fachada, mas com um grande pátio interno. Aproveitando o terreno íngreme, com um desnível de 12 metros, os blocos contêm oito andares, mas prescindem de elevador: o térreo está no meio, com três andares para baixo e quatro para cima, e passarelas e pontilhões servem de acesso.
Esse é um dos projetos apresentados no recém- lançado livro sobre o trabalho do escritório Biselli Katchborian, criado há 32 anos. A obra tem textos de Francesco Perrotta-Bosch, Elisabete França e Michele Oliveira. Traz ainda um projeto pouco conhecido que eles fizeram para o Terminal 3 de Cumbica, em formato de avião. Após a privatização apressada e confusa pilotada pela então presidente Dilma Rousseff, a concessionária foi desobrigada de usar o desenho pronto. Ao contrário de cidades globais, onde aeroportos funcionam como primeira impressão para quem as visita (pense nos arrojados terminais de Londres, Madri, Singapura, Hong Kong, Pequim, Dubai), Guarulhos contentou-se com um prédio insosso erguido ali.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 26 de junho de 2019, edição nº 2640.