#SPSonha: e se o Campo de Marte fosse um novo Central Park?
Os projetos apresentados pelo ex-prefeito e atual governador, João Doria, ainda não saíram do papel
Apenas 320 passageiros de aviação executiva voam do Campo de Marte diariamente. A frequência é tão baixa que o local, que até poderia gerar empregos para a região, tem um único restaurante e um bar. O número modesto — qualquer supermercado da cidade tem mais movimento — contrasta com a área ocupada pelo aeroporto: 2,1 milhões de metros quadrados, o equivalente aos parques Ibirapuera e Villa-Lobos somados.
Desde 1958 a prefeitura requer à União a devolução do aeroporto, tomado pela ditadura Vargas em 1932 e ainda pertencente à Infraero e à Aeronáutica. Os prefeitos Pitta, Kassab e Haddad já tiveram projetos para o lugar, que nunca decolaram. Quase seis décadas na Justiça (para que a pressa?) e, em agosto de 2017, João Doria, na época prefeito, assinou um acordo com o então presidente Michel Temer para que um quinto do terreno, 400 000 metros quadrados, fosse transformado em parque. Dezenove meses se passaram e não há o menor sinal de alguma obra para a criação dessa área pública na Zona Norte. Com o alinhamento entre Bolsonaro, Doria e Bruno Covas, mais a privatização da Infraero, será que sai?
Não faltou tempo para urdir um belo projeto para a área e seu entorno. São Paulo até hoje fracassa ao desenhar a relação entre parques e pedestres. O Ibirapuera foi cercado por vias expressas, não dispõe de metrô, e só é facilmente acessível a pé aos poucos moradores das casas vizinhas. A verticalização ao redor do Villa-Lobos se deu quase de costas para o parque (nem para permitir prédios lindantes, que se beneficiariam da vista, pagando um polpudo IPTU em troca). Sem um projeto benfeito, o Campo de Marte pode continuar a ser para poucos. Com ambição inspirada, porém, pode virar um Central Park, com mais verde, empregos e valorização da Zona Norte.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 13 de fevereiro de 2019, edição nº 2621.