Raro sírio-libanês: construções do arquiteto Sami Bussab nos anos 1970
O arquiteto projetou o Esporte Clube Sírio e o Edifício Boulevard e ganhou destaque
A arquitetura dos anos 1970 foi tão tristonha quanto aquela década na história brasileira. Se ditadura e censura assistiram à corrupção de Transamazônica, Paulipetro, Itaipu e as usinas nucleares de Angra, enquanto o descaso com a educação persistia, o mercado imobiliário mergulhou em uma linha de montagem pouco inspirada, especialmente financiada pelo BNH (a favelização explodia na cidade, algo ignorado pelos militares). Uma geração de construtores de origem sírio-libanesa dominou o período, mas seus prédios dificilmente aparecerão em qualquer livro ou revista sobre arquitetura por seus predicados estéticos.
Uma raríssima exceção foi a colaboração do arquiteto Sami Bussab, ele também membro da “colônia”, com a construtora Rizkal (da mesma família que criou a centenária Casa da Bóia, loja de ferramentas na Rua Florêncio de Abreu). Uma das obras dessa parceria foi o Edifício Jorge Rizkallah Jorge (de 1973), na esquina da Avenida Paulista com Bela Cintra.
Ao contrário de tantos prédios posteriores, tem lojas em todo o térreo e uma generosa marquise sombreada, graças aos painéis de concreto com sulcos verdes, produzidos pela artista Maria Bonomi (convidar uma artista de renome e oferecer essa arte pública assim também já tinha virado raridade então).
Formado em 1964 no Mackenzie, Bussab ainda teve uma frutífera parceria com o falecido mestre Pedro Paulo de Melo Saraiva. Juntos, projetaram o salão de festas do Esporte Clube Sírio (1966) e o Edifício Boulevard (1968), na Avenida Nove de Julho. Em mais de cinco décadas de carreira, Bussab ainda presidiu a Empresa Municipal de Urbanização, na prefeitura de Mário Covas, e o Fundo para o Desenvolvimento da Educação, quando Covas se tornou governador e na gestão do sucessor, Geraldo Alckmin. Desde 1973, leciona no Mackenzie.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 3 de junho de 2020, edição nº 2689.