Edifício Chopin: um dos últimos projetos do arquiteto Luciano Korngold
Projeto foi desenhado em 1960, a quatro mãos, com o jovem arquiteto Abelardo Gomes de Abreu

O judeu polonês Luciano Korngold foi um dos arquitetos mais influentes da São Paulo dos anos 1940 e 1950. De sua prancheta, saiu o primeiro arranha-céu racionalista da cidade, o CBI-Esplanada, no Anhangabaú. Ele também fez quase uma dezena de residenciais em Higienópolis, bairro onde morava, como o Santa Amália, o Higienópolis, o Fabíola e o São Vicente de Paula. Um de seus últimos projetos (ele morreu de enfarte em 1963, aos 65 anos) é este Edifício Chopin, na Rua Rio de Janeiro. Para respeitar as leis da época, ele precisou escalonar os últimos andares do Chopin, com recuos pronunciados. Nos pavimentos-tipo, as unidades têm mais de 400 metros quadrados. O acentuado declive do terreno permitiu ao edifício ganhar alguns andares abaixo do térreo — os fundos, onde Korngold colocou as salas, têm vista para o Pacaembu.

O Chopin foi desenhado em 1960, a quatro mãos, com o arquiteto Abelardo Gomes de Abreu, o último sócio do polonês. Formado no Mackenzie, Abreu trabalhou em um escritório de arquitetura em Illinois, nos Estados Unidos, e ao voltar foi pedir emprego a Korngold. A diferença de idade entre os dois (61 e 29) não impediu que o polonês lhe propusesse sociedade. Ele estava acostumado a receber bem os recém-chegados. Dez anos antes, no Rio de Janeiro, Korngold se hospedava no Copacabana Palace quando recebeu a visita de Jorge Zalszupin, que tinha emigrado havia pouco para o Brasil. Ele foi até a pensão portuária do conterrâneo, 25 anos mais jovem, ofereceu-lhe emprego em São Paulo e foi buscá-lo em Congonhas (com hospedagem já reservada).

E Abreu? Depois da morte do sócio, ele ainda presidiu a seção paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil, foi diretor da Cohab, desenhou móveis e projetou a bela casa onde mora até hoje, em São Sebastião. Aos 90 anos, continua esportista.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 1 de abril de 2020, edição nº 2680.