15 coisas para entender o Recife e os recifenses
1. Megalomaníaco, eu? Para começar a conversa, que fique claro: recifenses, em geral, são megalomaníacos. Talvez isso tenha raízes no movimento regionalista encabeçado por Gilberto Freyre, vai saber! Mas quem vive no Recife adora dizer, entre outras coisas, que a cidade tem o maior bloco de carnaval do mundo (isso é verdade, o Galo da Madrugada) […]
1. Megalomaníaco, eu?
Para começar a conversa, que fique claro: recifenses, em geral, são megalomaníacos. Talvez isso tenha raízes no movimento regionalista encabeçado por Gilberto Freyre, vai saber! Mas quem vive no Recife adora dizer, entre outras coisas, que a cidade tem o maior bloco de carnaval do mundo (isso é verdade, o Galo da Madrugada) e a maior avenida em linha reta – a Avenida Caxangá. O fato é que essa avenida nunca foi a mais longa e, para ironizar a megalomanía quase coletiva, existe até um filme chamado “O Melhor Documentário do Mundo”.
2. Bolo de rolo não é rocambole
Um recifense não admite essa comparação de jeito nenhum, apesar do formato semelhante. Enquanto o rocambole é feito com um único pão de ló enrolado, o bolo de rolo tem pelo menos quatro lâminas finíssimas de outro tipo de massa, o que exige muito mais habilidade das doceiras. Não por acaso, a deliciosa sobremesa é tida como patrimônio imaterial do Pernambuco desde 2007.
3. Hellcife e Raincife
Na brincadeira dos recifenses, a cidade possui apenas duas estações próprias: no verão, “Hellcife”, devido ao intenso calor que impera na maior parte do ano. Já no inverno, que é marcado por intensas chuvas, vira “Raincife”.
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4. Praia sem banho de mar
E no “Hellcife”, que dura quase o ano inteiro, todo mundo corre para a praia e… fica na areia! Recifense que é recifense sabe que, nos últimos anos, ao menos sessenta ataques de tubarão foram registrados nas praias da cidade. Por isso, o surfe por lá foi proibido e a maior parte dos moradores passa longe da água. Em vez disso, os recifenses tomam conta da areia para pegar sol, tomar cerveja e, claro, comer de tudo. As barracas e ambulantes oferecem caldinhos de feijão, camarão frito, ostra, queijo assado, amendoim…
5. Raspa-raspa para refrescar
A refrescante bebida, preparada na frente do freguês, consiste no gelo raspado e misturado a essências coloridas de diferentes sabores. O raspa-raspa, em outras cidades do país conhecido como raspadinha, costuma ser vendido em carrocinhas nas praias e outros lugares de grande concentração de pessoas, e tem gosto de infância.
6. Tapioca boa é a do Alto da Sé
Tem tapioca por todo lado no Recife, mas os recifenses gostam mesmo é das tapiocas feitas no Alto da Sé, na vizinha Olinda. A mais pedida é recheada com queijo e coco. Não tente entender muito bem por que lá é melhor. Peça a sua e curta a vista – lá do alto, dá para ver Recife e Olinda.
7. Cartola, só no prato
Não fosse formal demais, o uso de uma cartola poderia até ser útil nos dias ensolarados do Recife. Mas os recifenses preferem a cartola é no prato. Não entendeu? Tem esse nome a sobremesa que surgiu nos tempos das casas-grandes e senzalas. Ela é feita com banana frita coberta de queijo (pode ser de coalho ou manteiga) e polvilhada com açúcar e canela. Em 2009, o doce foi considerado patrimônio imaterial de Pernambuco.
8. Escondidinho ou arrumadinho?
Claro que tem pastelzinho, bolinho e outros quitutes típicos de boteco nos bares recifenses. Mas, para acompanhar a cerveja, os recifenses preferem mesmo é um escondidinho ou um arrumadinho, que são pratos substanciosos, apesar do diminutivo. O primeiro intercala camadas de um creme feito com macaxeira (mandioca ou aipim) e carne de sol ou charque. O arrumadinho leva uma dessas carnes mais feijão-macáçar ou verde, farofa e vinagrete.
9. Sushi carioca
Coube ao chef André Saburó, do Taberna Japonesa Quina do Futuro, introduzir esse sushi no cardápio dos restaurantes japoneses da cidade. De carioca, ele só tem o nome. Tipo de uramaki de salmão com cream cheese, empanado por fora, esse sushi faz o maior sucesso entre os recifenses. e, em outras capitais, é conhecido como hot roll.
10. Bolo de bacia
Muito antes da moda do cupcake, os recifenses já encontravam em lanchonetes populares um bolinho assado dentro da própria forma – o chamado “bolo de bacia”. O nome se refere à maneira simples de preparo da massa, que é batida à mão, em uma bacia mesmo.
11. O recifense não dança frevo…
O frevo é um ícone do Recife e, bairristas que são, os recifenses têm o maior orgulho disso. No entanto, por mais que se empolguem com o ritmo, a maioria dos recifenses não sabe dançar o frevo como um passista; em vez disso, não faz mais do que se remexer com os dois dedinhos para cima, para a frustração dos turistas.
12. O recifense também não diz “oxente”
Outra surpresa de quem chega à capital é se dar conta que os locais não usam tanto o “oxente!” tão comum aos nordestinos. Aliás, recifenses adoram “mangar” de quem tenta imitar o sotaque local falando “oxente”. Para eles, o mais comum é usar “oxe!”.
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13. Mas tem um dicionário próprio
No Recife, “mangar” significa rir de alguém, mosquito é chamado de muriçoca, o caloteiro que não paga a conta é tido como “xexêro” e fuleiro ou farrapeiro é uma pessoa que não honra o combinado. Quer mais? “Emperiquitado” é alguém muito arrumado; seu oposto é “malamanhado”. E se alguém estiver com muita restrição sobre algo ou alguém, ouvirá um “deixe de pantim”. O livro “Dicionário do Falar Pernambucano”, de Paulo Camelo, reúne mais de 2 300 verbetes como esses.
14. E há palavras do “dicionário recifense” com múltiplos significados
“Arretado” pode ser algo muito bom ou expressar desgosto ou irritação. “Massa” é usado para descrever algo ou alguém agradável e também para concordar com algo (como um “tudo bem” ou “beleza”). E “pronto” pode ser uma confirmação (como um “ok”) ou virar uma interjeição, em situações de indignação. Por exemplo: “Pronto, agora vão acabar com a nossa festa”.
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15. Visse?
Não bastasse ter um dicionário próprio, o recifense também criou a sua gramática. Um caso peculiar é o uso do pretérito do subjuntivo no lugar do pretérito do indicativo para a 2ª pessoa. Assim, em vez de perguntar “Foste lá?”, na linguagem coloquial é “fosse lá?”. Foi dessa forma que surgiu o famoso “visse”, muito usado no final das frases. “Agora ficasse sabendo um monte de coisa que só o recifense sabia, visse?”
Por Mirella Falcão, para Veja Recife