Inaugurado há um ano, jardim vertical da 23 de Maio está abandonado
Chamada de corredor verde, paisagem artificial sofre com vandalismo e falta de manutenção
Pouco mais de um ano depois de sua inauguração, em agosto do ano passado, que contou com a presença do então prefeito João Doria (PSDB), o jardim vertical da Avenida 23 de Maio, com 6 quilômetros de extensão, entre o centro e a Zona Sul, está morrendo aos poucos. Construída por 10 milhões de reais para substituir os grafites pintados durante a gestão de Fernando Haddad (PT) e uma das primeiras polêmicas do tucano frente à prefeitura, a paisagem está sem manutenção desde fevereiro de 2018, quando acabou o termo de cooperação entre a empresa responsável pela implantação da obra. Já sob os cuidados da administração de Bruno Covas, o corredor verde, presente nos dois lados da via e com 11 000 metros quadrados, apresenta diversos sinais de vandalismo e partes significativas dos painéis, antes cobertos por vegetação, estão áridos.
Do muro do hospital Beneficência Portuguesa, em direção ao Aeroporto de Congonhas, até depois do viaduto que dá nome ao complexo hospitalar, o inverno castigou praticamente todas as plantas que, sem irrigação, morreram. No caminho até o Ibirapuera, a cena se repete no acesso ao Paraíso, pela Rua Ramon Penharrubia, passando pelo viaduto Santa Generosa, até o muro da Rua Tomás Carvalhal. Mesmo em trechos onde há abundância de verde, como próximo ao Viaduto Tutóia, a inexistência de poda deixa as plantas ocuparem praticamente toda a calçada.
Em direção ao centro, a falta de zelo também é aparente, como próximo ao Centro Cultural Vergueiro, onde VEJA SÃO PAULO verificou na última terça (25) que um vazamento de água ocasionava a irrigação ininterrupta de parte dos arbustos, enquanto outras mudas próximas não eram regadas. No caminho até o Viaduto Jaceguai, na Ligação Leste-Oeste, o cenário cinzento também é visto em diversos pontos.
Além da falta de manutenção, outro fator essencial para o cenário é o vandalismo. Boa parte do sistema de iluminação foi furtado ou depredado, incluindo as esquadrias de alumínio usadas para a sustentação das lâmpadas. As bombas e o sistema de canos usados para regar a vegetação também foram surrupiados. Responsável pela implantação do projeto, o paisagista Guil Blanche diz que notificou a gestão municipal sobre a necessidade de um cuidado com o corredor verde. “Quando o contrato acabou, em 15 de fevereiro, falei inúmeras vezes que era preciso haver uma manutenção contínua. Mesmo assim eu, voluntariamente, fazia o básico, mas chega uma hora que não dá mais”, afirma Blanche. “Imagina uma árvore que você planta na porta de casa e que você adora cuidar, mas depois não consegue e a vê morrendo as poucos. É assim que me sinto”.
Depois que foi acionada pela reportagem, na última segunda-feira (24), a prefeitura mandou uma equipe das regionais da Sé e Vila Mariana inspecionarem a área. Na terça-feira, quatro servidores disseram, sob a condição de anonimato e enquanto tiravam com as mãos restos de lixo e entulho que entupiam uma das calhas usadas para o escoamento da água, que o local está sem manutenção há pelo menos seis meses.
O secretário adjunto das Subprefeituras, Alexandre Modonezi, rebate a informação de que o corredor verde está sem cuidado e diz que vai começar no próximo fim de semana uma grande ação de zeladoria nos espaços. “O modelo implantado não foi o ideal por causa do vandalismo. Se a gente instalar novamente o sistema de iluminação e de canos, que foi furtado, vai acontecer o mesmo de antes. Estamos desenvolvendo algumas adaptações, como a instalação de grandes floreiras de concreto que servirão para obstruir as tampas por onde os ladrões entram”, afirma. “Além disso, vamos trabalhar com cestas aéreas, que a prefeitura dispõe e que o Guil Blanche não possui para podar as plantas. Ele nunca fez o trabalho de poda, fora alguns equívocos que cometeu. Ele nunca teve experiência em locais tão grandes como esse da 23 de Maio”, conclui.
Além das floreiras de concreto, o secretário adjunto das Subprefeituras, Alexandre Modonezi, vai desenvolver outras peças do mesmo material para “esconder” as bombas de irrigação, cada uma orçada em cerca de 2 000 reais.