Zélia Duncan brilha ao levar para o palco canções de Itamar Assumpção
Ao longo de 2013, alguns artistas devem prestar homenagens a Itamar Assumpção com o objetivo de lembrar os dez anos da morte do precursor da vanguarda paulistana. Acontece que eles terão de se esforçar muito para realizar algo tão belo (e relevante) quanto o show que Zélia Duncan vem apresentando no Sesc Pinheiros. Impecável musicalmente e esteticamente, […]
Ao longo de 2013, alguns artistas devem prestar homenagens a Itamar Assumpção com o objetivo de lembrar os dez anos da morte do precursor da vanguarda paulistana. Acontece que eles terão de se esforçar muito para realizar algo tão belo (e relevante) quanto o show que Zélia Duncan vem apresentando no Sesc Pinheiros.
Impecável musicalmente e esteticamente, o espetáculo toma como base o disco Tudo Esclarecido. Lançado em outubro de 2012, o álbum traz um repertório com treze canções de Itamar (algumas delas em parceria com a poeta Alice Ruiz). Ao roteiro da apresentação foram acrescentadas outras músicas de autoria do cantor e compositor que Zélia já havia registrado ou cantado ao vivo em algum momento de sua carreira, como Código de Acesso, Fim de Festa e Milágrimas. Inclusive, esta última surge como o ponto alto da noite, no qual Zélia toca um ukulele bem baixinho enquanto os cinco músicos da banda a iluminam com as lâmpadas penduradas em cima de cada um.
A apresentação sugere um percurso na companhia do Nego Dito que inicia no entardecer e se estende até o amanhecer. Assim a exibição foi dividida em quatro atos, além do prólogo e do bis. Após mostrar Procurei, a cantora abre a cortina de filó enquanto quase declama Bicho de 7 Cabeças. Só então o “Entardecer” vem com Enquanto Penso Nela e o suingue de Cabelo Duro. “Quando gravou Totalmente à Revelia, no disco Sampa Midnight, Itamar cantou ‘Porque será que da morte / Não há caminho que torne?; Mas logo em seguida ele respondeu que “Poderia viver oitocentos milhões de anos /
Neste planeta na gandaia e na folia / Louco de tanta alegria /Totalmente à revelia. Divirtam-se”, Zélia dá assim as suas boas-vindas à plateia.
A primeira vista a cenografia assinada por Simone Mina parece bastante simples, apenas com recortes brancos abstratos ao fundo e no centro do palco. Mas durante o show, o cenário é incrementado pela luz de Alessandra Domingues e Cristiano Desideri. Durante o terceiro ato, intitulado “Noite Alta” (o mais sereno dos quatro), por exemplo, o clima é dado pelos raios que atingem dois globos espelhados. É nesse momento em que aparecem as baladas Mal Menor e Não É Por Aí, seguidas por Noite Torta, Fim de Festa, Mliágrimas e É de Estarrecer.
Zélia também explora a sua veia teatral para compor o espetáculo. Além de dar o tom certo a cada sentimento sugerido por Itamar Assumpção, ela faz caras e bocas, prende o cabelo (e solta novamente), dança baião enquanto dá voz a Vê Se Me Esquece, coloca óculos escuros e se senta em um banquinho para interpretar Fico Louco e recorre ao figurino todo branco, como acontece na ótima exibição Zélia Mãe Joana, música que Itamar Assumpção deu para a cantora com a letra escrita na folha de um calendário. Antes de entoar a canção, ela abre os zíperes da calça no sentido da barra até os joelhos.
O último ato, “Amanhecer”, vem com Gruta da Solidão e Tudo Esclarecido, faixa que dá nome ao disco. No bis, dois trunfos (ambos na ponta da língua do público): Denúncia dos Santos Silva Beleléu e Leonor. Além de um show agradável (daqueles que valem a pena ter o registro em DVD), o êxito de Zélia Duncan está tornar mais pop e acessível o cancioneiro daquele que já foi visto como maldito e difícil. Viva, Itamar!