O dia em que eu não assisti ao show de Cássia Eller
Quando converso com alguns críticos de música um pouco (ou muito) mais velhos do que eu, sinto uma pontinha de inveja pela oportunidade que eles tiveram de ver (ao vivo) alguns dos meus artistas favoritos. Elis Regina, por exemplo, morreu seis anos antes de eu nascer. Cazuza, por sua vez, saiu de cena quando eu tinha […]
Quando converso com alguns críticos de música um pouco (ou muito) mais velhos do que eu, sinto uma pontinha de inveja pela oportunidade que eles tiveram de ver (ao vivo) alguns dos meus artistas favoritos. Elis Regina, por exemplo, morreu seis anos antes de eu nascer. Cazuza, por sua vez, saiu de cena quando eu tinha dois anos. Minhas lembranças de Tim Maia se resumem a participações do síndico em programas de televisão (eu tinha 10 anos quando ele partiu). Mas esse texto é para falar de uma das cantoras brasileiras que eu mais admiro e que faria 50 anos hoje – se não fosse pelo infarto consecutivo a várias paradas cardio-respiratórias sofridos por ela no dia 29 de dezembro de 2001. Trata-se de Cássia Eller. Entre as figuras citadas, ela foi a que cheguei mais perto de ver em ação.
A cantora lançou o seu álbum de estreia em 1990, mas só conheci o seu trabalho quando ela surgiu com o disco Cássia Eller ao Vivo (1996). O registro em questão priorizou a essência da intérprete e deixou os valores (coxinhas) da gravadora em segundo plano. A estratégia deu certo, o disco foi um sucesso de vendas e, a partir daí, Cássia se tornou uma das principais figuras do rock no país. Naquele momento, é claro que eu não tinha noção desse panorama, mas sem dúvida foi essa mudança que fez com que o trabalho dela chegasse nas mãos de uma criança de 8 anos. Não me tornei uma consumidora fiel de sua obra de imediato, mas achava graça na repercussão dos seus shows. Se na intimidade Cássia Eller era tomada pela timidez, no palco ela extravasava. Não com palavras ou com um canto afinado (apesar da bela voz rouca, ela mesma dizia que gritava mais do que cantava), mas com cuspes, peitos amostra e “coçadas de saco”. Os atos de “rebeldia” da cantora fariam ainda mais sentido para mim quando completei 13 anos. Idade repleta de problemas sem solução, dilemas e repressão (aham!). Esse período coincidiu com o lançamento do Acústico MTV (2001) da intérprete, que, além de ter elevado a sua carreira, aliviou o meio musical predominado pelo funk carioca. Enquanto os meus amigos do colégio corriam atrás do Bonde do Tigrão (!), eu fui fisgada por faixas do calibre de Malandragem (Cazuza e Frejat), O Segundo Sol (Nando Reis) e Top Top (Os Mutantes).
Foi mais ou menos por aí que passei a ir em shows com frequência. Cássia Eller até passou com a turnê do Acústico por São Paulo, mas eu estava animada mesmo com o ingresso que comprei para vê-la no Guarujá durante as minhas férias. Ela se apresentaria em um desses eventos de verão, mas o show nunca aconteceu. Alguns dias antes, no dia 29 de dezembro de 2001, recebi a notícia de sua morte pela televisão. Desde então, a cada ano surgem pencas de “novas cantoras”. Não vou dizer que nenhuma presta, mas afirmo que nenhuma preenche a lacuna deixada por Cássia Eller.
+Em 2013, vida de Cássia Eller vira musical
Previsto para agosto de 2013, Cássia Eller – O Musical estreará no Rio de Janeiro, depois seguirá para São Paulo e Brasília. Confira algumas curiosidades sobre a peça:
– Direção artística de Ernesto Piccolo, dramaturgia de Patrícia Andrade, direção musical de Lan Lan (amiga e integrante da banda de Cássia Eller) e idealização de Gustavo Nunes
– O musical foi autorizado por Maria Eugênia, que foi companheira da cantora por 14 anos, e pelo filho de Cássia Eller, Chicão. Esse foi o primeiro contrato assinado pelo garoto de 18 anos em relação aos direitos de sua mãe
-Em cada estreia, a banda original que acompanhava a intérprete nos shows será responsável por tocar as músicas
-Um reality show transmitido pelo canal Multishow selecionará a atriz-cantora que representará Cássia Eller nos palcos