Gui Amabis fala sobre o belo disco Trabalhos Carnívoros
Em seu álbum de estreia, Memórias Luso/Africanas (2011), o cantor, compositor e produtor de trilhas sonoras paulistano teve algumas de suas letras enriquecidas pelos vocais de convidados. Agora, mais confortável na posição de intérprete, Gui Amabis assume o microfone em nove dos dez temas listados no segundo CD, Trabalhos Carnívoros (2012), que traz uma bonita […]


O cantor e compositor: show de lançamento no Sesc Pompeia (Foto: Priscila Prade )
Em seu álbum de estreia, Memórias Luso/Africanas (2011), o cantor, compositor e produtor de trilhas sonoras paulistano teve algumas de suas letras enriquecidas pelos vocais de convidados. Agora, mais confortável na posição de intérprete, Gui Amabis assume o microfone em nove dos dez temas listados no segundo CD, Trabalhos Carnívoros (2012), que traz uma bonita capa assinada pelo quadrinista Rafael Grampá. Ele também deixa o cunho autobiográfico para abordar a sua percepção para temas distintos. “As músicas são muito pessoais e por isso eu quis cantá-las”, diz. Acompanhado de um quarteto, Amabis mostra no Sesc Pompeia o novo disco (disponível para download gratuito no site do cantor), no qual consolida a sua habilidade de construir climas precisos para belas poesias (nem sempre diretas), como na faixa Pena Mais que Perfeita. Ele recebe no palco Tulipa Ruiz e Criolo, que entoam, respectivamente, Sal e Amor e Para Mulatu, ambas do primeiro registro.
Confira a entrevista com Gui Amabis:
O disco Memórias Luso/Africanas teve uma ótima repercussão. Como você avalia o ciclo desse trabalho e o processo de se descobrir como cantor?
Eu sempre cantei para compor as músicas, então foi tudo muito natural. A diferença foi assumir a postura de cantor diante de um público. Tive um pouco de receio, porque a voz é um instrumento vivo e você não tem um controle objetivo dela. A gente fica muito exposto por causa disso. O resultado depende de outras variáveis, como estar nervoso ou não ter acordado bem.
Você lançou Trabalhos Carnívoros muito rápido. Essa velocidade foi resultado de um bom momento criativo ou devido a aceitação do disco de estreia?
Eu fiz as músicas em um período de cinco ou seis meses. Quando eu vi o material pronto, estava em um momento tranquilo de trabalho, então não tinha motivo para não gravá-las. Também acabei achando o Regis, que é um parceiro fantástico. Depois de ter gravado, não quis demorar para lançar o disco. Talvez não tenha sido uma jogada muito inteligente em termos comerciais, mas emocionalmente não tem problema.
Em Trabalhos Carnívoros, você assume os vocais. Qual o motivo dessa escolha?
No primeiro disco, não era apenas uma questão de não querer assumir essa postura. Algumas músicas, eu fiz pensando nas pessoas que iriam interpretá-las, como a da Tulipa Ruiz, da Céu e do Lucas Santtana. Como era um disco que falava de misturas culturais e origens, eu achei legal acrescentar outras vozes. Hoje, eu me sinto bem confortável nessa posição.
Apesar de Memórias Luso/Africanas ser autobiográfico, considero o novo disco mais íntimo. Quais foram as inspirações?
As músicas de Trabalhos Carnívoros são muito pessoais e por isso eu quis cantá-las. As pessoas podem até regravar. Mas no meu registro, tinha de ser com a minha voz. Ali, tem vivências e experiências baseadas na relação com os meus pais, que são biólogos. Eu contraponho as experiências que tive na vida, como no campo amoroso e religioso.
No que influenciou a parceria com Regis Damasceno?
No primeiro disco, eu já tinha alguns arranjos e texturas. Fiz as letras em cima dessas bases e só depois fui gravar a voz dos cantores. Era um processo inverso. Dessa vez, foi mais tradicional. A presença do Regis foi ótima, ele é um músico excepcional. Foi bom ter uma visão sonora diferente da minha. Em algumas ocasiões, tive de abrir mão da minha ideia, porque achava que as dele poderiam complementar. A gente acertou em fazer essa parceria. Além de ter aberto a minha cabeça, enriqueceu o trabalho.
Você ainda se surpreende com a repercussão do seu trabalho como cantor?
Eu recebi elogios da crítica, mas fico feliz pelo trabalho final. As pessoas me dão retornos bem específicos. Acho que Trabalhos Carnívoros atinge mais as pessoas. Elas se conectam com as músicas de uma maneira mais forte. Como gravamos o disco em três meses, ele retrata um período curto. Isso faz com que ele tenha uma imagem mais completa do que outro. Enquanto esse é um retrato único, o Memórias Luso/Africanas é um retalho.
Percebo que você está mais ansioso pelo lançamento do disco em vinil do que estava pelo CD…
Eu acho CD muito legal, mas o vinil é um objeto de arte. Além de ser uma mídia mais duradoura, o vinil com a capa do Rafael Grampá será diferente. Para falar a verdade, eu só ouço vinil. Não compro CD.