“Réquiem para o Desejo”: um trem para o delírio
Ruy Cortez dirige versão livre e nonsense de Alexandre Dal Farra para "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams

Um dos nossos mais profícuos dramaturgos, Alexandre Dal Farra é o autor de Réquiem para o Desejo, versão livremente inspirada de Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams. A ousadia se dá na inversão de papéis e alteração de situações que descolam o texto atual do original e mantêm poucos elementos capazes de fornecer uma mínima associação.
Aqui, Blanche (vivida por Gilda Nomacce) não disfarça mais o desequilíbrio emocional e está literalmente babando. Stella (papel de Ondina Clais), sua doce irmã, tornou-se uma mulher dominadora, que supervaloriza o dinheiro e tortura, graças ao poder financeiro, Blanche e até seu marido, o machão de outrora Stanley (o ator Jorge Emil).
+ Em musical, Elza Soares atinge o patamar dos personagens atemporais.
Sob um viés psicológico, as essências de Blanche e Stanley ainda sobrevivem dentro do universo nonsense proposto por Dal Farra. Quem causa maior estranhamento é Stella, com sua personalidade autoritária, que parece forçada mesmo para quem não conhece a obra de Williams. Mais convincente é o agora dominador Mitch (interpretado por Marcos Suchara), pretendente de Blanche, cansado dos cuidados com sua mãe.
A direção de Ruy Cortez reforça todo o absurdo da dramaturgia e se justifica principalmente por Gilda Nomacce, que mergulha sem fronteiras na ideia e salva do despropósito a adaptação. Participação da cantora Denise Assunção nos números musicais (90min). 16 anos. Estreou em 5/10/2018.
+ Teatro do Sesc Ipiranga. Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 30,00. Até domingo (4).