“Música para Cortar os Pulsos” e levar o jovem ao teatro
Há pouco menos de dois anos, eu fui assistir a um espetáculo num fim de tarde de sábado. Não tinha pretensão alguma e tampouco alimentava expectativas de que o trabalho renderia uma pauta para a revista. Sabia que o grupo envolvido mexia com cinema, ouvi a recomendação de alguns amigos – mas até aí isso […]


Fábio Lucindo, Marisol Ribeiro e Victor Mendes em “Música para Cortar os Pulsos” (Foto: Rafael Gomes)
Há pouco menos de dois anos, eu fui assistir a um espetáculo num fim de tarde de sábado. Não tinha pretensão alguma e tampouco alimentava expectativas de que o trabalho renderia uma pauta para a revista. Sabia que o grupo envolvido mexia com cinema, ouvi a recomendação de alguns amigos – mas até aí isso costuma ser uma roubada também – e que a peça durava pouco mais de uma hora.
Pois o espetáculo era “Música para Cortar os Pulsos”, dirigido por Rafael Gomes, do curta-metragem “Tapa na Pantera”. No elenco, três atores com seus vinte e alguma coisa – Kauê Telloli, Victor Mendes e Mayara Constantino – e uma temática jovem. Coisa mais batida, não? Garotos infelizes, amores desencontrados, qualquer decepção já vira sinônimo de depressão profunda. Ok… Fui surpreendido.
A montagem divide-se em dez cenas e comove espectadores de qualquer faixa etária – ou pelo menos aqueles que também sofreram feito cão na idade dos exageros. De volta ao cartaz na sexta (7), “Música para Cortar os Pulsos” ocupa o Teatro Augusta até o dia 4 de novembro, de sextas a domingos. A única diferença é a substituição dos atores Mayara Constantino e Kauê Telloli por Marisol Ribeiro e Fábio Lucindo.
Isabela, Felipe e Ricardo são os protagonistas. A moça sofre porque foi abandonada. Felipe, por sua vez, procura uma paixão para aliviar o tédio e se surpreende ao perceber que Ricardo o considera bem mais que um amigo. Todos eles discorrem, em monólogos, sobre paixão, desejo, separação e perdas, costurando com sensibilidade depoimentos a trechos declamados de canções de Chico Buarque, Marina Lima e Roberto Carlos, entre outros. O que poderia soar piegas revela um efeito dramatúrgico consistente e de ampla comunicação.
Existe uma queixa generalizada entre diretores e produtores sobre a falta de renovação de público. “É muito, muito raro ver alguém na plateia com menos de 35 anos”, dizem eles. “E a maioria já passou dos 50”, completam outros. Essa choradeira existe desde que o palco é palco. Teatro é caro. Teatro, muitas vezes, é chato. Cinema, balada e cerveja, na cabeça dos jovens, divertem bem mais. E, pensando bem, eles podem não estar tão errados assim. Afinal, o que o teatro tem feito para atrair de verdade essa fatia de público? Quase nada. Os musicais, tão bem-sucedidos na atualidade, até despertam maior curiosidade. Mas o “teatro dramático” precisa repensar como atingir esse pessoal. Cabe aos mesmos produtores e diretores convencer o jovem de que pode ser legal dar um tempo para os brinquedinhos digitais e deixar alguns tostões na bilheteria de um teatro.