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Mostra Internacional de Teatro apresenta peças ao redor de São Paulo

Décima edição da MITsp, entre 13 e 23 de março, homenageia Antônio Nóbrega em programação que se alia à mostra Farofa do Processo

Por Fabio Codeço
Atualizado em 20 mar 2025, 11h36 - Publicado em 6 mar 2025, 14h15
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Antonio Nóbrega: artista conversa com o público e apresenta 'Mestiço Florilégio' (Fabio Alcover/Divulgação)
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Maior polo de produção cultural do país, São Paulo vai mobilizar cerca de 400 artistas e um público numeroso em torno das artes cênicas, com uma programação que se espalha por diferentes locais da cidade e espetáculos que levantam discussões sobre envelhecimento, perdas, migrações, violência, acessibilidade, entre outros. De 13 a 23 de março, a capital sedia a décima edição da MITsp — Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, um dos principais festivais do gênero no país, que este ano homenageia Antonio Nóbrega (leia o perfil no box abaixo).

A expectativa é que 16 000 pessoas aproveitem as atividades presencialmente. “Apesar de termos uma cena contemporânea vigorosa, a presença brasileira nos festivais internacionais é pequena. Trazemos programadores e curadores para olhar a produção nacional”, ressalta Guilherme Marques, idealizador do evento ao lado de Antonio Araujo.

Para abrigar a programação, que inclui uma abertura de processo criativo, quatro espetáculos internacionais, uma estreia nacional e outras nove produções brasileiras, além de debates, palestras, oficinas e rodas de conversa, o evento conta com dezoito espaços, de teatros a praças, que sediam as atividades, divididas em quatro eixos: mostra internacional, MITbr — Plataforma Brasil, que joga luz sobre a produção nacional, com espetáculos de seis estados, o painel Ações Pedagógicas e outro de mesas e debates intitulado Olhares Críticos (veja os quadros).

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Antonio Nóbrega: artista conversa com o público e apresenta ‘Mestiço Florilégio’ (Fabio Alcover/Divulgação)

O pontapé será dado na quinta (13), com a apresentação, no Teatro do Sesi-SP, de Vagabundus, de Idio Chichava, inspirado no ritual de dança do povo maconde, que vive em Moçambique e países vizinhos. Para chegar aos convidados internacionais, Antonio e Guilherme viajam o mundo percorrendo festivais. A seleção brasileira é feita a partir de uma chamada pública, que neste ano recebeu 462 inscrições. Um trio de curadores se debruçou sobre os projetos por quatro meses até chegar aos dez trabalhos que serão apresentados neste ano. “A ideia é formar um panorama que apresente diversidade de linguagens e de território, além de discutir questões urgentes”, explica Antonio.

Neste ano há espetáculos como o carioca Língua, que aborda a questão da acessibilidade de forma provocadora, e etarismo, como a produção francesa A Vida Secreta dos Velhos. Ainda na ala internacional, o público terá a oportunidade de ver em cena e ouvir um dos maiores nomes da dança contemporânea mundial, a zimbabuana Nora Chipaumire, falar sobre seu processo de trabalho — no dia 16, ela participa de uma mesa com a filósofa e artista Denise Ferreira da Silva e o ensaísta e curador André Lepecki.

Paralelamente à mostra, acontece o Farofa do Processo, com uma programação toda concentrada no Complexo da Funarte (veja o quadro). “Nosso foco é o processo de trabalho, mas também trazemos peças já concluídas que participaram anteriormente”, comenta Gabi Gonçalves, idealizadora e curadora. O MITsp foi criado em 2014 preenchendo a lacuna deixada pelo Festival Internacional de Artes Cênicas, realizado por Ruth Escobar. De lá para cá, foi o responsável por trazer pela primeira vez ao país alguns dos maiores artistas da cena contemporânea mundial, como o alemão Heiner Goebbels e o sul-coreano Jaha Koo.

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Apesar de sua inegável relevância, o MITsp é hoje metade do que já foi. “É um momento de crise do setor, que se reflete também nesta edição. Falta uma política de continuidade nos financiamentos à cultura, o que impossibilita o planejamento a longo prazo e nos mantém em constante estado de emergência”, descreve Guilherme.

Eterno Brincante

Homenageado pela mostra, Antonio Nóbrega apresenta espetáculo e ministra oficina

Homenageado desta edição do MITSp, Antonio Nóbrega, 72, é um dos mais completos artistas brasileiros. Nascido em Recife e radicado em São Paulo desde 1983, ele se interessou pelas artes ainda menino. “Meu pai era muito musical e desejava ver filhos cantando, mas num contexto não profissional. Percebendo que eu tinha jeito para música, me colocou na aula de violino.” Em certa apresentação, o rapaz chamou a atenção de Ariano Suassuna (1927-2014), que precisava de um violinista no Quinteto Armorial, grupo cujo propósito era criar uma música de câmara erudita com raízes populares. “Com Ariano tomei contato com a cultura que emana das classes populares e comecei a estudar de uma maneira quase obsessiva para tentar entender intelectualmente e aprender com meu corpo formas poéticas populares”, conta. Na mostra ele apresenta o espetáculo Mestiço Florilégio com a esposa e parceira profissional, Rosane Almeida. A obra multidisciplinar é constituída de canções, cenas teatrais, cinematografia e coreografias criadas e interpretadas pela dupla ao longo de quarenta anos de parceria. Ele também ministra a palestra “Brincando com Nóbrega” no dia 19, às 15h, no Centro Cultural São Paulo. Será uma espécie de pop-up do Instituto Brincante, fundado com Rosane em 1992, onde realizam um trabalho pedagógico com a arte. “Até hoje não sei se cunhei ou se ouvi de alguém”, conta sobre o termo que batiza o instituto, inspirado na forma de artistas populares chamarem espetáculo (“brincadeira”). No próximo semestre, Nóbrega lança um ensaio sobre a cultura popular brasileira e, nos dias 22 e 23, leva para o Sesc Pinheiros a peça Tributo a Ciata, sobre uma das figuras mais influentes do samba carioca. Caseiro, o artista vive no Alto de Pinheiros numa casa com quintal e pés de seriguela e jabuticaba. “É o lugar que mais gosto, onde passo o dia todo estudando, cantando ou escrevendo.”

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(Silvia Machado/Veja SP)

Confira os destaques da Mostra Internacional, da MITbr e do Olhares Críticos

 

Mostra Internacional

A Vida Secreta dos Velhos (França)

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‘A Vida Secreta dos Velhos’ fala sobre etarismo (Yohanne Lamoulere Tendance Floue/Divulgação)
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A obra documental do encenador Mohamed El Khatib desafia ideias preconcebidas sobre a terceira idade. A partir de entrevistas do artista em casas de repouso, a peça constrói um retrato plural sobre a reinvenção da sexualidade na velhice (70min). 16 anos. Sesc Vila Mariana.Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, ☎ 5080-3000 → Sex. (21) e sáb. (22), 20h . Dom. (23), 18h. R$ 50,00 e R$ 25,00 (meia).

Dambudzo (Zimbábue)

Um dos maiores nomes da dança mundial, a coreógrafa e performer Nora Chipaumire (foto) apresenta esta instalação inspirada pelos significados da palavra dambudzo — “problema” em xona, língua banta —, além de evocar ideias de pensadores africanos como Dambudzo Marechera (1952- 1987). Nora também apresenta seu processo criativo e participa, no dia 16, de uma mesa (70min). 16 anos. Sesc Pompeia. Rua Clélia, 93, Pompeia, ☎ 3871-7700 →Sex. (14), sáb. (15), ter. (18) e qua. (19), 19h. Dom. (16), 18h. R$ 50,00 e R$ 25,00 (meia).

Gaivota (Argentina)

Livre adaptação da obra de Anton Tchekhov (1860-1904), onde cinco atrizes interpretam os personagens principais da obra (90min). 16 anos.Theatro Municipal de São Paulo (cúpula). Praça Ramos de Azevedo, s/nº, ☎ 3367-7257. Sáb. (15) e dom. (16), 18h. Seg. (17) e ter. (18), 19h. R$ 50,00 e R$ 25,00 (meia).

Vagabundus (Moçambique)

O coreógrafo Idio Chichava aborda os processos migratórios e seus múltiplos significados pelo prisma do corpo, inspirado pelo ritual de dança do povo maconde, que vive em Moçambique e países vizinhos (70min). 10 anos.Teatro do Sesi-SP. Centro Cultural Fiesp. Avenida Paulista, 1313, ☎ 3528-2000 → Sex. (14) e sáb. (15), 20h. Grátis.

MITbr — Plataforma Brasil

Língua (RJ)

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‘Língua’ é um dos destaques da programação (Renato Mangolin/Divulgação)
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Indicada ao Prêmio Shell de melhor dramaturgia, a peça (foto) foi criada em português e em Libras. Nela, uma mãe prepara uma festa de aniversário-surpresa para seu filho, um taxista surdo que cresceu rodeado de pessoas ouvintes. O encontro reúne um pequeno grupo de amigos do rapaz evidenciando os afetos, mas também os dilemas e as diferenças culturais entre eles. O espetáculo é o segundo dirigido por Vinicius Arneiro em que investiga os paradoxos entre a cultura surda e a sociedade. Ao colocar o espectador ouvinte num lugar de incompreensão, propõe uma reflexão sobre os novos rumos nas práticas de acessibilidade, abordando a questão da convivência e da comunicação (75min). 14 anos. Itaú Cultural. Avenida Paulista, 149, ☎ 2168-1777 → Sáb. (22), 21h. Dom. (23), 19h. Grátis.

Réquiem (SP)

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(João Peralta/Divulgação)

O espetáculo, que faz sua estreia nacional no festival, estabelece um diálogo entre distintas linhagens de dança, como o balé, o jumpstyle e as danças urbanas populares. Criador, diretor e coreógrafo, Alejandro Ahmed investiga a relação entre corpo e ambiente numa cidade como São Paulo. A obra tem participação da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coral Paulistano interpretando composições do romeno György Ligeti e do músico eletrônico canadense Venetian Snares (60min). 18 anos. Theatro Municipal de São Paulo. Praça Ramos de Azevedo, s/nº, ☎ 3367-7257. Qui. (20), 20h. Dom. (23), , 17h. R$ 5,50 a R$ 92,00.

Olhares Críticos

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Denise Ferreira da Silva: diálogo (Divulgação/Divulgação)

Eixo que promove discussões sobre as artes cênicas e a contemporaneidade. Um destaque é a aula de Denise Ferreira da Silva, uma das mais importantes pensadoras da atualidade. No dia 15, das 17h às 19h, a filósofa e artista brasileira aborda as interseções entre raça, poder e ética a partir de uma perspectiva feminista negra anticolonial. Dia 14, a partir das 18h, a coordenadora do Museu da Diversidade Sexual, Amara Moira, o fotógrafo Edgar Kanaykõ Xakriabá e Erica Malunguinho, educadora e a primeira deputada trans eleita no Brasil, falam sobre diálogo entre diferentes corpos, territórios e estéticas.

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Ações pedagógicas

Oficinas, conversas e trocas de experiências gratuitas investigam modos de produzir e transmitir conhecimento. A curadoria de Alexandra G. Dumas, professora e pesquisadora de teatro, inclui o encontro de duas artistas que não se conhecem, mas que têm em comum obras sobre luto parental: a baiana Mônica Santana, que escreveu Substantivo Luto a partir da morte da mãe, e a mineira Cris Moreira, que criou a palestra-performance Quadra 16, depois de perder um dos filhos gêmeos. Elas participam de uma conversa mediada por Jhonny Salaberg no dia 22 (10h), na Biblioteca Mário de Andrade.

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Mônica Santana e Cris Moreira (abaixo): artistas se encontram numa conversa sobre o luto parental, tema comum em seus trabalhos (Tiago Lima/Divulgação)
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(Tati Motta/Divulgação)

Outras apresentações:

Baculejo (CE). Sesi-SP (mezanino), centro. Sáb. (22) e dom. (23). 15h e 19h. Grátis.

Cosmopercepções da Floresta (RJ). Centro Cultural São Paulo, Liberdade. Sex. (21), 19h. Grátis.

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Desmonte (MG). Teatro Cacilda Becker, Lapa. Ter. (18) e qua. (19), 18h. R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia).

Eu Tenho uma História que Se Parece com a Minha (SP). Centro Cultural São Paulo, Liberdade. Sex. (21), 19h. R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia).

Graça (RN). Centro Cultural São Paulo, Liberdade. Qua. (19) e qui. (20), 20h.R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia).

Mestiço Florilégio (SP). Teatro B32, Itaim Bibi. Seg. (17) e ter. (18), 21h. R$ 15,00 a R$ 50,00.

Parto Pavilhão (SP). Itaú Cultural, Avenida Paulista. Qua. (19) e qui. (20), 20h. Grátis.

Quadra 16 (MG). Biblioteca Mário de Andrade, República. Qui. (20) e sex. (21), 17h. Sáb. (22), 16h. Grátis.

Repertório N.3 (RJ). Centro Cultural São Paulo, Liberdade. Qua. (19) e qui. (20), 21h. R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia).

Reset Brasil (SP). Estação Brás (plataforma 6/7) da CPTM — Linha 12 Safira. Sáb. (22) e dom. (23), 15h. Grátis.

tReta, uma Invasão Performática (PI). Centro Cultural São Paulo, Liberdade. Qua. (19) e qui. (20), 19h. R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia).

A Última Ceia (SP). Centro Cultural São Paulo, Liberdade. Sáb. (22), 20h. Dom. (23), 19h. R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia).

Farofa do Processo

Criado em 2020 para ser uma espécie de mostra off, acabou ganhando relevância e vida própria. Neste ano, reúne mais de sessenta processos artísticos, incluindo criações recentes e trabalhos em desenvolvimento, e cinco espetáculos acabados que participaram de edições anteriores. As sessões acontecem ao longo de todo o dia, das 11h às 22h, e as atividades oferecem uma imersão em diferentes linguagens e experimentações da cena artística contemporânea, incentivando o surgimento de novas formas de criação.

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Cafi Otta em Carlos Filipe em Apuros (dias 15 e 16): mostra paralela (Cafi Otta/Divulgação)

“Temos processos em diversas etapas, desde leituras a espetáculos prontos. A ideia é abrir espaço, criar contexto e manter em movimento”, explica a idealizadora e curadora, Gabi Gonçalves. O objetivo é que os encontros e conversas gerem trabalho. “Temos algum mecanismo de internacionalização, mas pouca política pública”, diz. Esta edição traz trabalhos de artistas como Yasmin Gomes (CE), Fábio Osório (BA), Hilton Cobra (RJ), Grupo Carmin (RN), HBLynda Morais (PE), Alexandre Américo (RN), Wellington Gadelha (CE) e Dudu Melo, da Pigmentar Companhia (MG), além de Pepo & Tom, da Argentina. Ainda estão previstos rodas de conversa, bate-papos e encontros com programadores.

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Imagem sem crédito e fonte Cena de ‘Magnólia’, que terá sessão no dia 21 (Noelia Najera/Divulgação)

Publicado em VEJA São Paulo de 7 de março de 2025, edição nº2934

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