“Kintsugi, 100 Memórias”, do Lume Teatro, e a restauração do afeto
Um episódio, narrado em sucessivas versões, serve para puxar fragmentos da trajetória da companhia, recordações familiares e da história política brasileira

Sediado em Campinas, o Lume Teatro desenvolve há 34 anos uma respeitada pesquisa relativa ao corpo e à memória no trabalho do ator. Com dramaturgia finalizada por Pedro Kosovski e direção de Emilio García Wehbi, o grupo faz de Kintsugi, 100 Memórias um poético espetáculo sobre as diferentes interpretações possíveis diante de um fato.
Os atores-criadores Ana Cristina Colla, Jesser de Souza, Raquel Scotti Hirson e Renato Ferracini reconstituem um turbulento jantar, regado a sushis, sashimis e saquê, em 2009. Numa divagação sobre o futuro, lá pelas tantas, Ferracini afirmou que “não precisava de nenhum dos colegas para nada”. A mágoa se instaurou e, mesmo com o distanciamento de uma década, não parece enterrada.
O episódio, narrado em sucessivas versões, serve ainda para puxar fragmentos da trajetória da companhia, recordações familiares e da história política brasileira, bem como para apresentar personagens reais analisados no processo, abatidos pelo Alzheimer. Emocionante e delicado, o recorte proposto pelo Lume revela-se técnico e crítico ao percorrer temas e polêmicas mais amplas.
O interesse jamais se mostra restrito. Também, graças à empatia do elenco, a peça atinge o público por falar de relações humanas que precisam ser restauradas depois de fissuras — o que explica a menção da técnica japonesa de reparo em cerâmica no título (120min). Estreou em 24/5/2019. 14 anos.
+ Sesc Avenida Paulista. Avenida Paulista, 119. Quinta a sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 40,00. Até domingo (23). Haverá sessão extra na quarta (19), às 21h. Na quinta (20), feriado, a sessão está prometida para as 18h.