“Imortais”, de Newton Moreno: cemitério de almas vivas
O drama, em cartaz no Teatro Anchieta, é o melhor texto do autor pernambucano desde "Agreste"
Lançado em 2004, o drama Agreste projetou o autor pernambucano Newton Moreno. Ele escreveu, na sequência, boas peças cômicas para as atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão (As Centenárias) e Lilia Cabral (Maria do Caritó), conheceu o grande público, mas sem alcançar o brilhantismo daquele trabalho consagrador. O ótimo drama Imortais traz Moreno na sua melhor forma em mais de uma década. As tradições e crendices do povo nordestino aparecem conectadas a uma polêmica contemporânea tratada de maneira sublime.
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Ambientada em um cemitério, a trama centra o foco em uma viúva conservadora (interpretada por Denise Weinberg) que, sofrendo de uma doença terminal, se instala em um túmulo próximo ao do marido para esperar a morte. O sossego é interrompido pelo retorno da filha rebelde (a atriz Michelle Boesche), afastada de casa há seis anos, ao lado do noivo (representado por Simone Evaristo), uma mulher em processo de transformação para homem trans. O choque da mãe abre espaço para reflexões como a redescoberta do afeto e a possibilidade de um novo conceito familiar. A revelação de um segredo ajuda o espectador a compreender o comportamento de cada um e, graças ao elenco afinado, a montagem dirigida por Inez Viana ganha a empatia da plateia.
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Denise explora seus múltiplos recursos ao transitar confortavelmente entre o dramático e o cômico. Simone, por sua vez, humaniza a personagem com uma doçura imprevista. No papel mais difícil, Michelle expõe seu potencial e constrói um tipo denso com naturalidade e longe da caricatura. Destaque ainda para a trilha sonora executada ao vivo por Gregory Slivar (80min). 14 anos. Estreou em 23/6/2017.
+ Teatro Anchieta — Sesc Consolação. Rua Doutor Vila Nova, 245, Consolação. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 40,00. Até o dia 30.