Vem conhecer Zé Ibarra, da Dônica
Depois de se apresentar junto de Milton Nascimento, músico de 22 anos faz show solo no Bona
O carioca Zé Ibarra, de 22 anos, estava em estúdio preparando as músicas para o segundo álbum da banda Dônica quando Paula Lavigne, que o acompanhava, atendeu o telefone. No fim da ligação, avisou o rapaz que Milton Nascimento queria que ele se apresentasse no último show da turnê Semente da Terra, no fim do ano passado. A ideia é que ele tocasse violão e cantasse. “Foi tudo meio seco e eu ficava: como assim?”, lembra. “Eu toco teclado, piano, violão, mas não considero que toco bem assim e não tenho problema com isso”, afirma. Ainda teve o desafio de cantar.
Sem acesso às partituras — elas chegariam poucos dias antes da apresentação –, passou as duas semanas seguintes virando noite estudando tudo das músicas. “A harmonia dos mineiros é muito doida, foi um processo passar o medo da voz, de cantar. E eu, moleque, no meio daqueles músicos enormes”. Era uma espécie de show-teste para ele. Segundo ele, apesar do nervosismo e do branco nos segundos que antecederam a sua entrada, rolou tudo perfeito e, no fim, ainda recebeu o convite para acompanhar Bituca em seu projeto de 2019, baseado nas músicas do Clube da Esquina.
Zé conta que teve contato tardio com a obra de Milton e Clube da Esquina aos 12 anos, quando fez a sua primeira viagem a São Paulo, cidade para onde seu pai, o fotógrafo Léo Ramos, havia se mudado. “Era tudo novo para mim, ele me perguntou se eu já tinha ouvido e colocou Cais para tocar. Aí f… Foi inesquecível”, diverte-se. As músicas passaram a fazer parte de suas influências no seu processo de criação, que ganharia mais peso alguns anos depois, quando, com os amigos do colégio, montou a banda Dônica.
O grupo, que também tem entre seus integrantes Tom Veloso, ganhou destaque logo com o primeiro disco Continuidade dos Parques. Rodaram cidades, tocaram no Rock in Rio e Lollpalooza, foram capa de revista, tiveram Milton e Caetano Veloso no mesmo palco. “Foi do nada e tive dificuldades com a exposição. Por mais que tenha objetivos, mexe com a cabeça”, afirma. “As pessoas vão esperando coisas de você, a gente não consegue corresponder e se perde dentro da gente mesmo”, diz. Com muitas conversas e pé no chão, “o lance foi superado”.
Com a Dônica, agora, se dedica a este segundo disco. “Fomos pegos por todos os clichês de banda que é feita por melhores amigos. A gente tem que sempre conversar, falar, não pode ter mágoa”, diz. Mas antes, ele desenhou um projeto solo para se apresentar no Bona, no sábado (27). Nos planos também está a mudança para São Paulo, especialmente depois da aproximação do trio O Terno, de quem se tornou fã com o disco Melhor do que Parece, o terceiro do trio paulistano. “Eu pirei e forcei a amizade com os caras mesmo”, lembra. “Coloca ai, o crédito dessa foto é ‘Biel Basile’ [baterista d’O Terno] e sigo eles como exemplo de tudo”, afirma.