Mallu Magalhães, da Banda do Mar: “ainda sou uma deslocada”
Quem atende o celular é Marcelo Camelo. “Cara, nesse momento ela está caminhando em direção ao quarto do hotel e em cinco minutos já vai poder te atender”, ele explica, com uma cordialidade que quase não combina com a imagem sisuda pela qual é conhecido desde a época dos Los Hermanos. A entrevista com Mallu […]
Quem atende o celular é Marcelo Camelo. “Cara, nesse momento ela está caminhando em direção ao quarto do hotel e em cinco minutos já vai poder te atender”, ele explica, com uma cordialidade que quase não combina com a imagem sisuda pela qual é conhecido desde a época dos Los Hermanos. A entrevista com Mallu Magalhães, sua esposa e parceira na Banda do Mar, grupo que se apresenta nesta sexta (31) no Audio Club, estava atrasada algo em torno de sete horas. O motivo foi a demora não prevista na gravação do programa Esquenta!, apresentado por Regina Casé na TV Globo.
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A nova fase da carreira dos dois é evidente. Ainda que sempre tenham colaborado nos projetos solo um do outro desde 2008, quando começaram a namorar, tudo parece mais ensolarado. Saíram os instrumentos acústicos e o ranço de MPB que marcou os trabalhos do casal e entrou um som muito mais cheio de groove, com uma ou outra pitada de surf music, muito por culpa da bateria do português Fred Ferreira, que eles conheceram durante a estadia em Lisboa.
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Recomposta de uma infecção urinária (“tomei alguns remedinhos e já fiquei boa”) que a atormentou naquele dia, Mallu falou com VEJA SÃO PAULO sobre o que há de novo na Banda do Mar, o relacionamento com Camelo, o medo de aparecer na televisão, arrependimento e sereias.
No primeiro clipe do disco, que foi feito para a música Mais Ninguém, vocês três aparecem fazendo o passinho do romano. Ver o Marcelo Camelo dançando um passo de funk é, no mínimo, surpreendente. Isso é uma forma de dizer que ele está se levando menos a sério e quer afastar a fama de introspectivo e reservado?
Espero que sim (risos). Espero que ele esteja se sentindo mais leve e mais alegre. Pessoalmente, eu acho que ele rejuvenesceu depois que a gente começou a namorar. Outro dia eu vi a primeira foto que a gente tirou junto e não o reconheci. Hoje em dia ele parece mais feliz: está com o sorriso mais frouxo, os olhos mais calmos. Não sei se foi culpa minha ou se foi a vida. Ninguém muda ninguém. Se ele ficou mais livre e se leva menos a sério, isso é mérito dele.
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Desde que começaram a namorar, em 2008, você e o Marcelo Camelo participam dos projetos individuais um do outro. Você cantou Janta no primeiro disco solo dele, enquanto ele produziu o seu terceiro álbum, por exemplo. O que há de diferente na Banda do Mar em relação a tudo que vocês produziram juntos até hoje?
É muito diferente. A banda é o encontro de três elementos: o Fred, o Marcelo e eu. A gente é mesmo um trio, não só um casal. É surpreendente como isso acontece, mas é verdade. Quando a gente faz uma música pra banda, a gente leva em conta a personalidade de cada um. É muito desafiador.
O que a vivência em Portugal mudou na forma que vocês fazem música?
O próprio movimento de estar em outro país, em contato com outra cultura, se distanciar de ambiente onde eu me sinto segura já é muito renovador. Isso acaba influenciando a gente na composição, ela se renova, fica mais fresca, mais nova, mais pura e cheia de vida.
A foto da capa do disco é da modelo Camila Baldin, feita pela fotógrafa Bruna Valença. Muita gente perguntou se era você?
Pra você ter uma ideia, a minha mãe pegou a capa do disco e disse: “nossa, filha, que graça essa coroa que você está usando” (risos). Eu disse que era outra pessoa e ela não acreditou. Lembra bastante mesmo. Tomo isso como elogio, a Camila é linda.
Como a capa dialoga com o conteúdo do disco?
Ela tem esse encanto. Ali, a modelo é quase uma sereia. Mas há também o peso da realidade. A sereia é um símbolo muito interessante, se a gente parar para pensar. É uma coisa bonita, que atrai, e é acima do ser humano. E ela fica na água… Ao mesmo tempo ela mata, não é? Nosso som é por aí.
Hoje vocês gravaram uma participação no programa Esquenta!, da Regina Casé. Há um desejo de que as pessoas vejam você como alguém mais acessível, distante da imagem de artista excêntrica e um pouco esquisita do começo da sua carreira como aconteceu quando você se apresentou no Domingão do Faustão em 2009, por exemplo?
Sou deslocada até hoje. Eu sou do jeito que eu sou e do jeito que eu posso. Eu não tenho nenhuma ambição de ser uma coisa que eu não sou. Isso é um caminho direto para a tristeza. Eu espero que eu possa agradar as pessoas assim. A estranheza e a excentricidade também têm o seu lugar. Não acho que eu sou uma pessoa especialmente televisiva, mas hoje em dia eu me saio um pouco melhor. Só quem já foi a um desses programas gigantes pode entender o que eu digo. É como uma criança que vai à Disney: tem 250 coisas acontecendo ao mesmo tempo, 90% delas brilham, dançam e fazem ruído.
Você ainda é muito nova, mas já pode apontar algum arrependimento na sua trajetória?
Eu acho que sim. Se eu pudesse, teria brigado menos com os meus pais. A época da adolescência é difícil para qualquer um. Não é fácil lidar com a exposição que eu lidei. Se eu pudesse, gostaria de ter percebido mais cedo que eles gostam de mim. Passei um tempo pensando que eles me achavam um lixo porque me davam bronca e diziam que eu estava fazendo tudo errado. Mas eles estavam falando tudo aquilo porque me amam. Demorei uns dois anos com esses pensamentos. Foram dois anos perdidos no nosso relacionamento.