Erasmo Carlos comenta faixas do show ‘Meus Lados B’
De tão incansável que é, Erasmo Carlos, de 73 anos, só recentemente conseguiu parar para relembrar músicas de sua fase mais cultuada. Nesta semana, ele grava no Tom Jazz o DVD do show Meus Lados B, que já apresentou no Rio de Janeiro ano passado. O repertório cobre o vinte anos entre 1966 e 1986, mas reserva […]
De tão incansável que é, Erasmo Carlos, de 73 anos, só recentemente conseguiu parar para relembrar músicas de sua fase mais cultuada. Nesta semana, ele grava no Tom Jazz o DVD do show Meus Lados B, que já apresentou no Rio de Janeiro ano passado. O repertório cobre o vinte anos entre 1966 e 1986, mas reserva especial atenção para os irretocáveis Carlos, Erasmo (1971), Sonhos e Memórias (1972) e Banda dos Contentes (1976). Quem vai assistir ao espetáculo sexta (23) e sábado (24), esteja avisado: “Não adianta pedir, bicho: não vai ter Sentado à Beira do Caminho nem Gatinha Manhosa.” Aqui, o Tremendão dá um aperitivo e comenta quatro faixas que têm presença certa na exibição:
Dois Animais na Selva Suja da Rua, do disco Carlos, Erasmo (1971)
“Essa canção foi um presente do [compositor] Taiguara para mim e para a minha esposa, a Narinha, quando nos casamos. Na verdade, fomos morar juntos, ainda sem nos casar e já com um filho, o que era um escândalo na época. A gente não dava bola para as críticas, apenas seguia a vida e pronto. Eu sempre fui assim, bicho. Não fico prestando no que as outras pessoas estão falando. Antigamente, aconteciam coisas muito simples que provocavam escândalos. Contando hoje, tem quem não acredite que isso causava tanta celeuma.”
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O Comilão, do disco Projeto Salva Terra (1974)
“Fiquei muito surpreso quando a censura implicou com O Comilão. A música fala sobre coisas tão simples, tão bobas, e de repente acontece isso. Diziam que o verso “comeu esfomeado desfalcando a exportação” prejudicava a imagem do país. Então, precisei mudar “comeu” por “sonhou”. Quando fiz um dueto com o Jorge Ben Jor dessa música em Erasmo Convida (1980), cantamos o verso original.”
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Maria Joana, do disco Carlos, Erasmo (1971)
“Minha experiência com a maconha foi no início dos anos 70. Era a contracultura, a moda veio firme dos Estados Unidos. Alguns filmes deram força, como o Easy Rider (1969). A filosofia hippie, “faça amor, não faça guerra”… Tudo isso contribuiu. A maconha era moda entre os intelectuais e artistas todos, e eu estava querendo ficar na moda, é claro (risos). Decidi parar com a maconha e com outras drogas com o passar do tempo. Fui observando o que as drogas podiam causar. Muitos amigos meus morreram por causa delas. Hoje em dia, quase nem bebo mais. Só uma dose antes do show para tirar a tensão. Ainda fico tenso quando vou me apresentar, sinto aquela dorzinha na barriga.”
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Estou Dez Anos Atrasado, do disco Erasmo Carlos e Os Tremendões (1970)
“Hoje, o Brasil não está mais apenas dez anos atrasado. Está quarenta. Os anos da ditadura foram outras três décadas de atraso. Com os dez que eu falei naquela época, faça as contas.”
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