Cinco perguntas para António Zambujo
Nome celebrado do fado português contemporâneo, o músico António Zambujo, de 39 anos, volta à cidade na próxima terça (21), quando mostra pela primeira vez na cidade o sexto disco da carreira, Rua da Emenda (2014). O trabalho chega com o peso do sucesso de seu antecessor, Quinto (2012), que lhe deu projeção internacional e o fez arrancar elogios do exigente […]
Nome celebrado do fado português contemporâneo, o músico António Zambujo, de 39 anos, volta à cidade na próxima terça (21), quando mostra pela primeira vez na cidade o sexto disco da carreira, Rua da Emenda (2014). O trabalho chega com o peso do sucesso de seu antecessor, Quinto (2012), que lhe deu projeção internacional e o fez arrancar elogios do exigente crítico Jon Pareles, do The New York Times, no mesmo ano.
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Conversamos com o músico, que toca no Bourbon Street ao lado do competente grupo formado por Ricardo Cruz (baixo), João Moreira (trompete), José Conde (clarinete) e Pedro Oliveira (guitarra portuguesa), sobre a pressão de voltar ao estúdio, o ciclo que se encerra com o novo álbum, a pouca vontade de cantar em inglês e a birra que tem com o termo “país-irmão”.
Quinto foi o seu disco mais bem-sucedido até aqui, o levando a se apresentar em diversas partes do mundo. Se sentiu pressionado ao entrar no estúdio para gravar o sucessor?
Não. Fazer música nunca vai ser uma pressão para mim. Eu acho que o fato do Quinto ter sido um disco que permitiu que eu fizesse muitos concertos me deixou feliz, não poderia deixar que isso fosse um peso. Cada trabalho tem um prazo e uma vida própria. Apesar haver sempre uma ligação entre eles, todos são registros de momentos diferentes. Na minha opinião, claro, não podem ser comparados.
Você disse em entrevista ao jornal Público que Rua da Emenda “encerra um ciclo”. Qual é o período que acaba com esse disco?
Dou muito o exemplo do João Gilberto. Ele é talvez o meu maior ídolo e que mais influencia a minha forma de tocar e de cantar. A base do trabalho dele é a voz e o violão e foi assim que eu comecei a preparar e a pensar as minhas músicas a partir do Por Meu Cante (2004). Dali em diante, eu e os músicos que tocam comigo fomos acrescentando qualquer coisa, provocando algo mais caótico, diferente. Acho que nesse momento sinto uma necessidade de voltar ao princípio, repensar e refazer tudo de novo. Atingimos uma zona de conforto que acaba por ser um pouco desconfortável. Há sempre a necessidade de algum inconformismo. Nesse sentido é o fim de um ciclo.
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Para qual direção pretende seguir?
Ah, não. Ainda agora começamos a fazer a turnê desse disco. Deve ser igual à do Quinto, que teve dois anos e meio… Espero que essa seja ainda maior. Só então vou começar a pensar o que fazer. As coisas vão surgindo com o tempo.
Apesar de já ter cantado em espanhol e francês, você disse recentemente que não tem a menor intenção de fazer o mesmo em inglês. Por qual motivo?
Se eu cantasse algo em inglês provavelmente seria alguma coisa do Tom Waits, que é o compositor que eu mais gosto. Não sei… A língua inglesa não me seduz, não me parecesse que seja muito musical. Eu gosto mais das línguas latinas nesse sentido.
Apesar de ser muito ligado ao nosso país, você costuma dizer que não gosta do termo país-irmão. Por quê?
Eu não gosto da conversa piegas, sou muito pragmático. Não gosto dessa imagem ou que as pessoas pensem que Portugal é o país do Galo de Barcelos, sei lá, daqueles clichês que não fazem mais sentido e deixaram de fazer 200 anos atrás. Assim como o Brasil não é o país do samba, da bossa nova e da morena… Quer dizer, da morena acho que continua a ser. Temos que viver a realidade e aceitar as coisas como elas são. Acho hipócrita considerar Portugal como um país-irmão só por ter sido o colonizador. Nesse momento, Portugal não significa nada para o Brasil e não tem essa obrigação. A única coisa que temos igual é a nossa língua. Pouco mais que isso não é. Mas eu adoro o Brasil [risos]! Não é um país-irmão, mas eu o adoro.