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Mariana Barros - Morar em SP

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Local da cracolândia abrigou o primeiro boom imobiliário de SP

Na semana passada, estive ausente do blog por conta de uma reportagem sobre as novas medidas do governo do estado de São Paulo para combater o avanço do crack na cidade. Passei muitas horas (alguns dias, na verdade) acompanhando as atividades do Cratod, Centro de Referência de Atendimento a Tabaco, Álcool e Outras Drogas, mantido pela […]

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Atualizado em 27 fev 2017, 12h53 - Publicado em 28 jan 2013, 11h37
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Campos Elíseos tomado por usuários de crack. Era uma vez um bairro… (Foto: Juca Varella/ Folhapress)

Na semana passada, estive ausente do blog por conta de uma reportagem sobre as novas medidas do governo do estado de São Paulo para combater o avanço do crack na cidade. Passei muitas horas (alguns dias, na verdade) acompanhando as atividades do Cratod, Centro de Referência de Atendimento a Tabaco, Álcool e Outras Drogas, mantido pela administração estadual. O órgão fica na Rua Prates, bem em frente ao Jardim da Luz. Além das impressionantes histórias de luta de familiares e dependentes para sobreviver ao vício, que você lê na edição desta semana (com versão online aqui), foi possível observar o cotidiano de uma área que tinha tudo para ser uma das mais vivas da cidade e, no entanto, é um dos locais mais melancólicos e degradados do nosso perímetro urbano.

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É difícil entender por que um lugar tão bem servido de transporte público (a estação da Luz está ali ao lado, com acesso a diversas regiões da cidade e até outros municípios), área verde (o majestoso Jardim da Luz) e boas calçadas permanece relegado ao abandono. A qualquer hora do dia ou da noite, usuários de crack perambulam pela região que, no século passado, por conta de todas essas facilidades, foi o endereço mais concorrido entre as famílias abastadas da cidade.

O surgimento do bairro de Campos Elíseos, que engloba boa parte da atual cracolândia, representou o primeiro boom imobiliário de São Paulo. Com o início da operação da Companhia Cantareira de Água e Esgotos, em 1882, os adensamentos urbanos deixaram de se restringir ao entorno dos pequenos chafarizes para se espalhar por áreas mais afastadas. De olho nessa oportunidade de expansão, o alemão Victor Nothmann e o suíço Frederico Glette adquiriram a chácara Mauá para iniciar um novo bairro de inspiração francesa (Champs-Élysées), visando atrair a alta sociedade paulistana. O projeto urbanístico ficou a cargo do arquiteto Hermann von Puttkamer, autor do antigo edifício do Grande Hotel, na Rua São Bento. E a empreitada foi um sucesso.

A área inicial do Campos Elíseos era delimitada pelas atuais Avenida Duque de Caxias e alamedas Cleveland, Nothmann e Barão de Limeira. Esse perímetro recebeu os primeiros sinais de progresso urbano: água encanada, gás domiciliar, esgoto, iluminação pública, arborização e ruas pavimentadas. A Alameda Barão de Limeira abrigou os trilhos da primeira linha de bonde da cidade. Até a sede governo do estado mudou-se para lá, instalando-se no  Palacete Elias Chaves, na Avenida Rio Branco, onde permaneceu de 1921 a 1965. A decadência começou na década de 30, com a falência das famílias residentes do bairro que perderam tudo na crise de 1929i.

Hoje, viciados perambulam pelas ruas em meio a delírios, gritando ou falando sozinhos, dormindo no chão e praticando pequenos furtos para bancar o consumo de pedras. Poucos vão ao Cratod em busca de recuperação por iniciativa própria (segundo estudo da Unifesp, apenas 30% dos dependentes procuram ajuda). Quem costuma ir ao edifício atrás de tratamento é, na grande maioria, familiares tentando resgatar seus filhos, pais e irmãos dependentes. Enquanto isso, o Campos Elíseos lembra mais o cenário do clipe Thriller, de Michael Jackson, do que propriamente um bairro. A existência de fezes humanas no canteiro central da Rua Prates são um triste lembrete disso.

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