Registros fotográficos raros mostram primeiro albergue de São Paulo
"A mendicância era uma contravenção, então ou as pessoas passavam a noite no albergue ou na cadeia", explica o pesquisador João Gomes
Durante uma pesquisa sobre a Associação Cívica Feminina, fundada por Olívia Guedes Penteado em 1932, na onda do movimento sufragista e da Revolução Constituinte, o pesquisador João Gomes, mestre em História Social pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), encontrou raros registros do primeiro — e na época o único — espaço da capital paulista que abrigava a população em situação de rua.
O albergue, criado na década de 1920, passou para as mãos da associação composta por mulheres da alta sociedade que faziam assistencialismo em 1937. “São 19 fotografias em preto e branco, que estavam em armários e escrivaninhas na sede atual da associação,”, explica.
“Ninguém se preocupava em registrar imagens dos pobres e dos miseráveis da cidade, a não ser através de fotografias policiais. Existia uma visão higienista também que classificava esses indivíduos como perigosos”
O pesquisador, então, classificou as fotos e iniciou um trabalho com o albergue, que ficava nas proximidades da Praça da Bandeira, no centro. “Ninguém se preocupava em registrar imagens dos pobres e dos miseráveis da cidade, a não ser através de fotografias policiais. Existia uma visão higienista também que classificava esses indivíduos como perigosos. A mendicância era uma contravenção, então ou as pessoas passavam a noite no albergue ou na cadeia”, diz João.
A pesquisa é tema de um bate-papo na Casa Guilherme de Almeida, que será realizado nesta quarta-feira (28). O evento integra a agenda de agosto do museu em parceria com a Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, que traz discussões acerca das habitações do centro urbano, de favelas a aldeias e ocupações.
Na conversa virtual, que acontece das 19h às 22h, o pesquisador apresentará esses registros raros e contará a história e discussões envolvendo a existência do albergue. “É interessante pensar no porquê das fotografias existirem. Elas possuem um viés muito humano das pessoas retratadas”, afirma.
Palestra PRIMEIRO ALBERGUE NOTURNO DE SÃO PAULO. Quarta-feira, 28 de agosto, das 19h às 21h (plataforma Zoom). Grátis. casaguilhermedealmeida.org.br