Michel Etlin (1924-2021), veterano de guerra, ex-espião e banqueiro
De ex-combatente na II Guerra Mundial a executivo de Wall Street: a vida cinematográfica do finado francês
Empresário pioneiro ao introduzir os bancos de investimento no Brasil, Michel Etlin morreu no último dia 9, em São Paulo, aos 96 anos, após uma parada cardíaca. Francês nascido em Paris em 26 de maio de 1924, fugiu ainda adolescente para o Marrocos quando explodiu a II Guerra Mundial. Com o irmão, Robert, tornou-se um espião contra os alemães em Casablanca, até que teve a prisão decretada acusado de terrorismo. “Eles tiveram de fugir para Havana, em Cuba, e ficaram em quarentena”, conta o filho Jean Marc Etlin.
Depois, conseguiram ir até o Canadá, onde aprenderam a pilotar avião. Em 1943, juntaram-se à RAF (Royal Air Force), na Inglaterra, e se tornaram pilotos de guerra. Durante uma operação em 1945, Robert acabou abatido pelos alemães.
Já no pós-guerra, com a França devastada, Etlin decidiu ir para os Estados Unidos. Lá, tornou-se tesoureiro e vice-presidente do Dutch-American Mercantile Bank, na mítica Wall Street. Contratado pela instituição financeira, veio ao Brasil em 1954 e caiu de amores pelo país tropical. Resolveu ficar e passou a trabalhar por conta própria, estabelecendo-se como banqueiro.
Em 1959, no Rio de Janeiro, conheceu Susana Nogueira Batista, recifense de família cearense. Casaram-se dois anos depois – a união completaria sessenta anos em agosto. Ele vivia com a esposa no Jardim América.
Amante das artes, foi conselheiro e vice-presidente internacional do MAM. Em nota, a instituição lamentou a morte de Etlin, que “muito contribuiu para a cultura do país e para a história do museu por mais de 35 anos”. Outra paixão era o esporte: ele foi uma espécie de patrono do rúgbi nacional ao criar, entre outras iniciativas, uma bolsa para premiar jovens atletas promissores na modalidade que viajam até países como a Nova Zelândia para aprender inglês e aprimorar a técnica do esporte.
“Meu pai adorava a vida, comer, beber. Fumava três charutos por dia. Amava o Brasil. Teve uma vida longa, quase romanesca, um personagem que não se faz mais hoje em dia”, lembra o filho Jean Marc. Michel Etlin deixa três filhos, três noras, seis netos e a esposa, Susana, de 96 anos.
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Publicado em VEJA São Paulo de 24 de fevereiro de 2021, edição nº 2726