‘Uma Batalha Após a Outra’ é o que precisamos neste momento da história
Grande aposta ao Oscar, filme de Paul Thomas Anderson tem Leonardo DiCaprio e Benicio del Toro no auge do alcance performático

Poucas experiências na sala de cinema neste ano se comparam a de assistir a Uma Batalha Após a Outra. É um filme completo: envolvente, cativante, divertido, atual e emotivo. Levou mais de uma década para o cineasta Paul Thomas Anderson escrever o roteiro do longa, e o capricho fica evidente.
O longa surge como uma grande jornada do herói contemporâneo de maneira despretensiosa, sem precisar se esforçar para ser considerado como tal (mas é claro que houve muito esforço por trás).
À primeira vista, é Leonardo DiCaprio que, no auge do seu alcance performático, desempenha o papel dessa figura principal, mas percebemos depois que ele não condiz exatamente com o ideal heroico. Bob Ferguson, um ex-revolucionário americano, é um sujeito desajeitado, que se aposentou da guerrilha após ser perseguido e obrigado a fugir com a filha, Willa (Chase Infiniti).
Essa perseguição, pelas mãos de um governo autoritário de direita, resultou no sequestro da esposa, Perfidia Beverly Hills (uma magnética Teyana Taylor), que fugiu e nunca mais foi encontrada.
Depois de 16 anos escondidos, pai e filha são surpreendidos com o retorno de um inimigo, Steven J. Lockjaw (interpretado com imponência por Sean Penn), e novas ameaças de morte. Bob e Willa recorrem a antigos aliados, como o excelente e fundamental Benicio del Toro na pele do Sensei Sergio, para se salvarem e fazem de tudo para se reencontrar.
As provações da trajetória colocam o pai em apuros, com destaque para uma sequência hilária sobre perda de memória a respeito de códigos da guerrilha. Envolvidas por uma trilha com piano crescente e dissonante (em sintonia com o personagem que pisa em falso), as trapalhadas de Bob são mais do que um simples alívio cômico, elas representam o amor pela filha e deixam claro que ela é a verdadeira heroína.
Willa passa pela grande transformação da história, ao começar a tomar consciência de si mesma, seu contexto e, mais importante, o país que está à sua volta.
Dessa forma, o diretor e roteirista disseca a situação política dos Estados Unidos. Nenhum elemento é inserido à toa, cada detalhe foi muito bem pensado e executado — graças à ótima montagem.
Mais uma belezura, a fotografia coloca o espectador no lugar dos personagens, a exemplo da sensacional cena de perseguição de carro.
Com os pés no chão, o final realista concretiza o filme como o recado que precisamos neste momento da história mundial.
Sem dúvidas, será um dos favoritos ao Oscar do ano que vem.
NOTA: ★★★★★
Publicado em VEJA São Paulo de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964