‘Retrato de Um Certo Oriente’ reúne 8 idiomas com belas atuações e direção
Marcelo Gomes brilha na direção deste ‘boat movie’, inspirado em livro de Milton Hatoum, com atores libaneses e indígenas
Retrato de Um Certo Oriente cria uma experiência profundamente sensorial com apenas tons de preto e branco. A constatação serve como metáfora para outros aspectos do filme, em cartaz nos cinemas.
A partir de uma história simples, inspirada no livro de 1989 de Milton Hatoum, o diretor Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus) fala sobre amor, imigração, preconceito, sexualidade e memória, às vezes sem usar palavras, com uma riqueza de detalhes visuais.
No Líbano de 1949, dois irmãos católicos, Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour), decidem deixar o país para fugir da guerra iminente. Saem, então, em um barco rumo ao Brasil.
Na viagem, ela se apaixona pelo comerciante muçulmano Omar (Charbel Kamel), mas o irmão é tomado por um ciúme irracional, quase incestuoso, e tenta separar os dois, apontando para diferenças religiosas.
Quando Emir se fere em uma briga com Omar, Emilie desce da embarcação e busca tratamento em um vilarejo indígena. O jovem se recupera e eles seguem caminho para Manaus. Conforme o casal se aproxima, consequências trágicas acontecem.
Além de um elenco talentoso, o trabalho extraordinário do diretor de fotografia Pierre de Kerchove merece as honras pelo uso de sombras e posicionamentos de câmera. Junto do som imersivo, o resultado é uma atmosfera totalmente envolvente.
Outro atributo igualmente valioso é o olhar do cineasta. Gomes soube navegar muito bem por águas desconhecidas, caso da junção de oito idiomas no set.
“Foi o filme mais difícil que já fiz”, conta o diretor. “Tivemos tradutor nos primeiros dias, mas depois dispensamos, porque eu acreditava que o olhar ia me dizer a verdade.”
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 22 de novembro de 2024, edição nº 2920