Diretora de ‘Hot Milk’ revela significado por trás de símbolos na trama
Em entrevista a Vejinha, Rebecca Lenkiewicz comenta sobre inspirações e referências para história enigmática que estreou em Berlim

Lançado em Berlim neste ano, Hot Milk apresenta uma história que não atende à expectativa convencional de romance e relação entre mãe e filha.
Inspirado em livro homônimo de Deborah Levy, o filme de Rebecca Lenkiewicz, que estreia na direção de um longa, narra a mudança de Rose (Fiona Shaw) e a filha, Sofia (Emma Mackey), para a cidade de Almeria a fim de receber tratamento médico com o curandeiro Gómez (Vincent Perez) para o mal estar inexplicável da mãe. Lá, encontram mais perguntas do que respostas.
Em uma bela tarde na praia, a jovem conhece Ingrid (Vicky Krieps), uma figura quase mitológica, que surge sedutora em um cavalo branco. As duas começam a ter um quase-romance, que sempre pisa em falso, enquanto Sofia tenta encontrar a si mesma para além do controle materno.

“É sobre quanto somos capazes de amar. Se estamos machucados, podemos amar? A esperança é que sim”, afirma Rebecca Lenkiewicz, em entrevista a Vejinha. Confira a seguir trechos da conversa com a cineasta.
Esta história é pessoal de algum modo?
Tudo o que escrevo se torna meio pessoal. Mas foi só quando sentei com a Fiona Shaw para falar sobre o roteiro que percebi que havia muito do meu pai na Rose.
Que símbolos, como o latido do cachorro, quis priorizar?
Para mim, o cachorro, acorrentado no telhado sob o sol, sem motivo, era a Sophia, que está doida para se libertar da mãe. No livro, a cobra é morta por Ingrid com um machado, quis mudar para ter Sophia salvando-a, para ter um pouco de esperança. O cavalo de Ingrid é meio mítico, uma espécie de liberdade feminina.
Houve referências?
Sempre fui fascinada por O Medo Consome a Alma (1973), porque acho que é um filme sobre não ser capaz de amar. Existe amor e ele é proibido. E é tão brutal, mas é tão lindo. Então esse filme me fascinou. E, quando eu era criança, Betty Blue (1986) era o grande filme, era muito sobre o espírito livre. Ela é incrível, mas, na verdade, ela é terrivelmente infeliz. Na época em que assisti, eu tinha uns 17 anos, pensei que queria ser Betty Blue.
Qual é a essência do filme?
É sobre quanto somos capazes de amar. Se estamos machucados, podemos amar? A esperança é que sim, há chance de reparo e que onde há trauma haja luz. Espero que as pessoas admirem essas mulheres, porque cada uma delas tem falhas, mas também são resilientes e complexas. Onde há dificuldade também há alegria.
Publicado em VEJA São Paulo de 4 de julho de 2025, edição nº 2951