‘Oeste Outra Vez’ expõe masculinidade frágil em belo faroeste de Goiás
Ângelo Antônio e Babu Santana estrelam filme de Erico Rassi em sertão goiano quase sem mulheres

O Oeste do Brasil tem particularidades e complexidades difíceis de decifrar. Oeste Outra Vez finca a bandeira nesse território, cria uma atmosfera inóspita e transforma o gênero americano do faroeste em algo totalmente brasileiro.
O filme de Erico Rassi tem a premissa simples de uma vingança pessoal no sertão de Goiás. Totó (Ângelo Antônio) quer matar Durval (Babu Santana) por ter “roubado” sua mulher, Luiza (Tuanny Araújo). Contrata o atirador Jerominho (Rodger Rogério) para dar conta do recado, mas a missão falha e o rival contra-ataca com seus próprios capangas.
A trama, que pode parecer superficial, ganha contornos profundos graças à direção e à fotografia, que olham para os vazios nos espaços em que estão. A única cena em que uma mulher aparece é a primeira, quando Luiza abandona os dois brutamontes. Outras também são citadas por terem tomado a mesma atitude.
Sem personagens femininos, o longa caminha em uma linha tênue entre crua realidade e quase distopia, o que gera reflexão e soa como um basta ao machismo. A sós, os homens precisam lidar consigo mesmos. A solidão revela suas fragilidades e expõe a violência uns contra os outros.
Até quem não fazia parte desse duelo paga o preço, como Ermitão (Antonio Pitanga). Eles se mostram seres tristes, inseguros e amargurados pois nunca desconstruíram a masculinidade. O egoísmo e narcisismo viram uma arma contra si próprios.
O perfil surge como análise dessa região do país, cuja ambientação seca é apresentada com uma precisão imersiva pela direção de arte, junto do retrato dessa masculinidade — com pilhas de louça suja e lixo espalhado pelas casas.
Assim como a série Adolescência, da Netflix, nos mostra, os homens devem ser incluídos no debate sobre igualdade de gênero.
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 4 de abril de 2025, edição nº 2938