‘Manas’ aborda temas delicados com maestria e elenco impecável
Primeira obra de ficção de Marianna Brennand já desponta como um dos melhores filmes do ano

Manas só chega nesta semana aos cinemas, mas já tem uma trajetória linda e de dar orgulho ao nosso cinema. O filme de Marianna Brennand ganhou o Giornate degli Autori em Veneza no ano passado e fez da cineasta a primeira brasileira a conseguir o prêmio. No último mês, a diretora foi anunciada como vencedora do Emerging Talent Award de Cannes deste ano.
É a primeira ficção de Marianna, que ficou conhecida pelas produções documentais. O longa narra a história de Marcielle (Jamilli Correa), uma jovem de 13 anos, moradora de uma comunidade ribeirinha na Ilha de Marajó. Uma realidade brutal e desumana esconde-se por entre palafitas, isoladas pelas margens distantes do Rio Tajapuru.
Em uma sociedade misógina e repleta de violências, homens como o pai, Marcílio (Rômulo Braga), impõem machismo e dominação às mulheres. Enquanto sofre pela mudança da irmã mais velha para viver com o companheiro em outra cidade, a jovem decide confrontar o sistema, tendo em mente o mundo que ficará para a irmã mais nova. Para isso, conta com a ajuda da policial Aretha (Dira Paes).
Descobrimos, junto da protagonista, a gravidade dos horrores ocultos na região. É muito interessante acompanhar o amadurecimento da personagem, captado com perfeição pela atriz infantil, que tem tudo para se tornar uma estrela. O elenco inteiro está impecável. A diretora optou por não reproduzir cenas de exploração sexual de crianças.
Ao viajar ao local, Marianna entrou em contato com histórias pesadas e densas, que seriam dificilmente contadas em um documentário. Seguiu pela ficção, mas o cuidado da veia documental é perceptível e gerou um dos frutos mais positivos possíveis no cinema: a sensação de não estar assistindo a um filme. É uma imersão total e um exercício pleno de empatia. Uma vez que se trata de um tema de extrema delicadeza e importância, a cineasta soube conduzir com maestria, tornando este projeto extraordinário e merecedor de todos prêmios, prestígios e públicos. Já é um dos melhores filmes do ano.
NOTA: ★★★★★
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de maio de 2025, edição nº 2944