‘Herege’ tenta afrontar religião com discurso ateu e talento de Hugh Grant
Filme de Scott Beck e Bryan Woods provoca e sufoca espectador antes de destilar um argumento febril e imponderado
Em Herege, Hugh Grant mostra uma face temível e perversa. O terror de Scott Beck e Bryan Woods, roteiristas de Um Lugar Silencioso (2018), provoca e sufoca o espectador, antes de destilar um argumento febril e imponderado.
A premissa é colocar em xeque um dos pilares da existência humana: a fé. Por um lado, é uma iniciativa admirável, já que toca na ferida do embate entre religiões.
Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são jovens missionárias que se dedicam a atrair novos fiéis. Um dia, batem à porta do Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e inclinado a se converter, mas a aparência engana.
As duas caem em uma armadilha e são obrigadas a lutar pela sobrevivência e lidar com questionamentos em um jogo psicológico à la Jogos Mortais. Até a metade do longa, o cenário proposto gera uma tensão de tirar o fôlego.
No entanto, quando se aprofunda na linha de raciocínio, apresenta um discurso ateu tão cego quanto aquilo que critica, e perde credibilidade.
Quem se mostra uma verdadeira divindade é Hugh Grant, que amedronta com expressões perturbadoramente amigáveis.
NOTA: ★★★☆☆
Publicado em VEJA São Paulo de 22 de novembro de 2024, edição nº 2920