‘Extermínio: A Evolução’ eleva terror de zumbis com mensagem e dinamismo
Retomada da franquia de Danny Boyle, iniciada em 2002, tem imagens feitas por iPhones e reflexões sobre violência

Em Extermínio (2002), o cineasta Danny Boyle criou uma nova dimensão para filmes de terror de zumbis. Escrito por Alex Garland e estrelado por Cillian Murphy, o longa trouxe uma abordagem mais violenta, perturbadora e socialmente sintomática, com mortos-vivos combativos e reflexões sobre o nosso tempo.
A dupla de diretor e roteirista retorna, junto de Murphy como produtor executivo, com a mesma missão de elevar o gênero em Extermínio: A Evolução, terceiro filme da franquia — o segundo foi dirigido por Juan Carlos Fresnadillo. Ótima notícia: eles conseguiram mais uma vez.
Das mensagens implícitas na tela aos esforços inovadores nos bastidores, a obra capta com vigor e vísceras o espírito da época. Depois de 28 anos da disseminação do vírus da raiva, que escapou de um laboratório de armas biológicas, as pessoas encontraram formas de sobreviver em meio aos infectados.
Uma comunidade vive com o mínimo de tranquilidade em uma ilha no Reino Unido, conectada ao continente por uma única passagem fortificada. Desde pequenos, os moradores são ensinados a ter consciência dos arredores e, ao atingir à adolescência, a matar os zumbis.
Chega a hora de Spike (Alfie Williams) deixar a quarentena com o pai, Jamie (Aaron Taylor-Johnson), para testar as habilidades de caça e sobrevivência — quase como um coming-of-age.
No continente, ele aprende como enfrentar cada situação e conhece uma variante evolutiva ameaçadora, o Alpha (Chi Lewis-Parry). Trata-se de um zumbi mutante enorme, que não morre com uma simples flechada e é capaz de arrancar a espinha de uma pessoa.
Surgem reflexões sobre a violência, a guerra sem fim e o estado agonizante das criaturas grotescas. No caso do Alpha, o uso de uma prótese peniana avantajada e pouca vergonha em mostrá-la chama atenção para como, no fundo, todos vão olhar e se ver diante da obsessão fálica da sociedade.
Com muito suor, pai e filho voltam à ilha e são celebrados pelo sucesso na missão, mas a doença da mãe, Isla (Jodie Comer), e segredos familiares vão fazer com que o menino saia novamente da ilha para buscar ajuda de um médico misterioso, o Doutor Ian Kelson (Ralph Fiennes).
A escolha do nome de Isla (ilha, em espanhol) traz uma outra conotação para a história — como se ela fosse o lugar onde resta a humanidade. Tanto Comer quanto Fiennes desempenham um papel fundamental para expressar intenções, como a de crueldade do machismo e a de salvação por meio da ciência, em um mundo que a nega.
O modo como Boyle filmou merece destaque: um equipamento metálico com vinte iPhones Pro Max em sequência permitiu criar um dinamismo formal inédito e espetacular. Palmas também para edição, fotografia e efeitos visuais pela execução.
O plano agora é tornar esta nova fase da saga em uma trilogia, com mais um longa previsto para o ano que vem e outro a ser gravado.
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 27 de junho de 2025, edição nº 2950