Cinema da Augusta ganha patrocínio e passa a se chamar Espaço Petrobras
Inauguração da nova chancela, após 39 anos de parceria com banco, acontece na terça-feira (21), com filme de Walter Salles

Quem passou pela altura do número 1475 da Rua Augusta no último mês deparou com um novo letreiro na fachada do tradicional cinema de rua. Agora, o lugar se chama Espaço Petrobras de Cinema. O acordo de patrocínio, com duração de dois anos, foi fechado em outubro.
As negociações começaram após a saída do Itaú da sociedade com o espaço, em maio de 2024, e com as unidades no Shopping Frei Caneca e Bourbon Shopping, que passaram a ser operadas pelo Cinesystem. Foram 39 anos de acordo com a marca. Desde então, o cinema ficou sem apoio financeiro.
“Passamos por maus bocados, com pandemia, governos não favoráveis à cultura e saída do patrocinador”, diz Adhemar Oliveira, sociólogo, exibidor e gestor do espaço. “Ainda estamos nos recuperando de tudo isso. É um recomeço.”

O empresário conta que foi a Petrobras quem o procurou para uma parceria. Eles fecharam o pacote de patrocínio e aprovaram o projeto e as ações na Lei Rouanet.
A nova chancela será inaugurada oficialmente na terça-feira (21), com sessões de Terra Estrangeira (1995), de Walter Salles, Kasa Branca (2025), de Luciano Vidigal, e Malês (2024), de Antonio Pitanga.
Além do letreiro, as primeiras mudanças já começaram a aparecer no espaço. O laranja foi substituído pelo verde, o amarelo e o cinza nas paredes, poltronas e cartazes.


Diferentemente das alterações visuais, a intenção é de seguir com a mesma filosofia para a programação. “A proposta continua sendo: democracia na tela e na plateia”, ele comenta. Também há o plano de retomar ideias antigas, como o Curta Petrobras às 6.
Não é de hoje a parceria entre a petroleira e o empresário. O evento de curtas-metragens foi lançado em 1999. A relação se estreitou em 2018 com o Cinearte Petrobras, que virou o Cine Marquise, no Conjunto Nacional, após a empresa não renovar o contrato, em 2019.
O cinema da Augusta ocupa o prédio que abrigou o Cine Majestic, criado pela família Moussalli nos anos 50. Passou por várias gestões e foi fechado no início da década de 90.


Nas mãos de Adhemar Oliveira, recebeu uma grande reforma e abriu as portas novamente com três salas, livraria, café e bonbonnière, em outubro de 1993, patrocinado pelo Banco Nacional. Dois anos depois, fechou patrocínio com o Unibanco, que depois foi incorporado pelo Itaú, e ganhou o Anexo, com duas salas e um café.
O espaço do outro lado da rua é motivo de disputa na Justiça, com um projeto de empreendimentos imobiliários da construtora Vila 11. A associação de moradores defende a preservação do patrimônio cultural. Em dezembro, a 7ª Vara da Fazenda Pública suspendeu o parecer que autorizava a demolição. Cabe recurso à decisão.
A iniciativa da petroleira veio após um momento de reestruturação do Programa Petrobras Cultural, com um dos focos em cinema. “A possibilidade de patrocinar um espaço tradicional de São Paulo e a expectativa de realizar ações para a formação de público, estimulando estudantes, se mostraram muito oportunas”, afirma a gerente de patrocínios, Alessandra Teixeira.

A empresa já realiza e participa de eventos, como a Sessão Vitrine Petrobras e a Mostra SP. “Este é um momento de produções audiovisuais de muita qualidade, com temas importantes para o país, e de reforçar a energia transformadora da cultura.”
O gestor, que também é sócio do Cinesala, em Pinheiros, celebra o bom momento do cinema nacional — que, inclusive, ajudou a “dar fôlego” nos últimos meses antes do patrocínio.
“O Ainda Estou Aqui foi uma grata surpresa. Nós estávamos vindo de épocas magras”, relata. “Tivemos um aumento de público considerável e, mais do que isso, a valorização do cinema brasileiro”, comemora.
Publicado em VEJA São Paulo de 17 de janeiro de 2025, edição nº 2927