Emma Mackey sobre ‘Hot Milk’: “Nunca tinha feito nada parecido antes”
“É uma espécie de tragédia grega, com tantas camadas e subtexto”, afirma atriz de 'Barbie' e 'Sex Education', em entrevista a Vejinha

Lançado em Berlim neste ano, Hot Milk apresenta uma história que não atende à expectativa convencional de romance e relação entre mãe e filha.
Inspirado em livro homônimo de Deborah Levy, o filme de Rebecca Lenkiewicz, que estreia na direção de um longa, narra a mudança de Rose (Fiona Shaw) e a filha, Sofia (Emma Mackey), para a cidade de Almeria a fim de receber tratamento médico com o curandeiro Gómez (Vincent Perez) para o mal estar inexplicável da mãe. Lá, encontram mais perguntas do que respostas.
Em uma bela tarde na praia, a jovem conhece Ingrid (Vicky Krieps), uma figura quase mitológica, que surge sedutora em um cavalo branco. As duas começam a ter um quase-romance, que sempre pisa em falso, enquanto Sofia tenta encontrar a si mesma para além do controle materno.
“Achei tão envolvente e poético, uma espécie de tragédia grega, com tantas camadas e subtexto”, afirma Emma Mackey, em entrevista a Vejinha. Confira a seguir trechos da conversa com a atriz.
Por que decidiu participar do filme?
Eu fui a última a entrar no elenco, então já sabia que havia pessoas com ótimo gosto participando. Li o roteiro de Rebecca de uma vez e encontrei-a no dia seguinte. Achei tão envolvente e poético, uma espécie de tragédia grega, com tantas camadas e subtexto. Nunca tinha feito nada parecido antes.
De onde surge o romantismo no filme?
Está nos elementos, o filme funciona bem com eles. Quando a Ingrid cavalga pela praia a cavalo sob o sol escaldante, há algo bastante onírico nela. Você pensa: “Ela é real? Essa força da natureza que chega de repente”. O filme funciona bem com os elementos.
Como os cenários, entre praias e locais industriais, influenciam na história?
Muito do que fazemos é influenciado pela areia, pelo sal, pelas picadas de água-viva, pelo calor, pelo vento, havia um vento constante, muito forte. Era um tipo de agressão constante, de uma forma boa para o filme, pois isso transparece na pele. Você fica queimado, com coceira, calor, incomodado, mas isso faz parte da história. Há um tipo de sensualidade, do calor, da água, do corpo.
Como descreveria cada personagem?
Eles têm seus mecanismos. Ingrid flutua, pega, brinca e dá partes de si mesma e depois as remove e troca você. Rose demanda, ri e quer viver, mas também quer sair deste mundo e não quer mais estar aqui. Sofia está perdida, ela está no limbo, ela está entre dois mundos, ela não sabe onde se encaixar, você sabe se ela é realmente desejada por alguém, ela se sente solitária, todas essas coisas. Gomez é talvez aquele que eu mais apoio porque, mesmo que sem saber se ele é um médico de verdade, nós não sabemos se ele é um pouco charlatão ou se podemos confiar nele, mas ele está fazendo as perguntas certas e ele está fazendo perguntas muito simples. Não há nada como ele estar fazendo perguntas muito simples sobre seus pais e como ela cresceu e filho e isso é o suficiente para desbloquear isso, fazê-la chorar e liberar tudo isso, tudo o que foi reprimido por todos esses anos.
Há personalidades fortes na obra. Com quais você se identifica?
Interessante, é uma boa pergunta. Me importo muito com a Rose. Acho ela engraçada, charmosa, e acho que esse também é o problema, pois ela consegue trazer Sophia para o mundo dela quase com um estalar de dedos. Contracenar com Fiona foi tão bom, ela é tão magnética, me incentivava a acompanhar. Não sei se eu sou necessariamente alguma dessas pessoas, mas definitivamente tenho empatia por elas. Não acho que nenhum dos personagens seja julgado no filme. Também não acho que nenhum deles seja necessariamente agradável, e digo isso sem julgamento. Todos estão tentando…
Publicado em VEJA São Paulo de 4 de julho de 2025, edição nº 2951