Premiado em Cannes, ‘Baby’ mostra busca por afeto em uma São Paulo hostil
Filme de Marcelo Caetano conta história de jovem abandonado pelos pais que vira garoto de programa para sobreviver na cidade

Existe um sentimento particular que fica no coração quando uma história de amor que não se concretizou parece ter chegado ao fim. É uma sensação triste, mas com uma pontinha de gratidão e esperança.
Baby, de Marcelo Caetano, encapsula esse sentimento — e muito mais. O filme, que ganhou prêmio na Semana da Crítica de Cannes de 2024, acompanha Wellington (João Pedro Mariano), um jovem recém-liberado da Fundação Casa que se vê abandonado pela família e à deriva no centro da metrópole paulistana.
Caetano retrata a dinâmica pulsante de corpos no espaço urbano com dinamismo e movimento. O protagonista é recebido pelos amigos da comunidade LGBTQIAPN+ e o acolhimento faz da ideia de “chosen family” (“família escolhida”) outro elemento importante.
“Todo mundo que veio morar em São Paulo teve que eleger uma família”, comenta o diretor belorizontino, em entrevista à Vejinha. Há cenas lindas de afeto com o casal Priscila (Ana Flavia Cavalcanti) e Jana (Bruna Linzmeyer).
Mas é o encontro com Ronaldo (Ricardo Teodoro) que, ao apresentar o “rolê GP” (garoto de programa) ao jovem, toma o enredo por completo. Eles enveredam por um caminho perigoso à margem da sociedade e constroem uma relação conflituosa.
Dois mundos diferentes colidem, mas o amor permite-lhes encontrar o meio do caminho. “É uma relação complexa, com diferença de idade. Tem assimetria de poder, de desejo. Mas o filme acredita na troca entre pessoas diferentes, é o lugar onde me conecto pessoalmente”, comenta o cineasta.
A direção e o roteiro são de imensa espontaneidade e sensibilidade, tais como as performances do elenco. A obra soa como uma experiência pessoal e íntima de cada um dos envolvidos.
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 10 de janeiro de 2025, edição nº 2926