‘A Última Showgirl’ é devastador da melhor forma possível
Filme de Gia Coppola recebeu indicação ao Globo de Ouro deste ano, mas ficou de fora do circuito brasileiro e só chegou neste mês à HBO Max

O glamour decadente de uma showgirl em fim de carreira em Las Vegas é de grande complexidade e teatralidade. Plumas e paetês evocam uma atmosfera burlesca de paixão pelo espetáculo e busca pelo sonho.
No filme de Gia Coppola, A Última Showgirl, que recebeu indicação ao Globo de Ouro deste ano, mas ficou de fora do circuito comercial brasileiro e só chegou neste mês à HBO Max, acompanhamos a luta de uma vedete ao tentar manter viva essa “magia” em tempos modernos.
Com delicadeza e sensibilidade, Pamela Anderson dá vida a Shelly Gardner, a dançarina que inspira o título. Há trinta anos, ela faz parte do elenco fixo do Le Razzle Dazzle, último show do tipo em Las Vegas, do qual tira seu sustento.
Quando sai a notícia de que ele será encerrado, Shelly fica desamparada e precisa lidar com o fato de que o público se interessa mais por um novo tipo de performance circense com nudez.
Em paralelo, somos apresentados à relação com a sua filha, Hannah (Billie Lourd), que se sente abandonada pela mãe. Tenta se reaproximar da jovem, mas a tentativa gera, em um primeiro momento, um confronto pelas escolhas que fez durante a vida, priorizando a vida do espetáculo em vez da maternidade.
A atuação de Pamela e de Jamie Lee Curtis, no papel de Annette, a amiga mais velha, desbocada e artificialmente bronzeada na medida certa, são essenciais e dão o tom da história. A primeira traz uma ingenuidade e esperança desiludida na voz, enquanto a segunda proporciona um alívio cômico realista da vida ativa na terceira idade.
Outro aspecto importante é a fotografia, que utilizou lentes anamórficas com o objetivo de criar uma estética texturizada, granulada e onírica que captasse um clima nostálgico. As imagens com bordas borradas imitam a aparência de uma visão turva de “fim de festa”.
O longa reflete sobre objetificação, violência ao corpo feminino e descartabilidade na indústria capitalista, especialmente do entretenimento.
Poderia ser totalmente cabisbaixo e deprimente, mas termina em uma boa nota, com o otimismo e a oportunidade de um recomeço.
A trilha sonora, com instrumentos de cordas delicadamente performados, dança ao redor da protagonista e conclui o longa com a bela “Beautiful That Way”, na voz de Miley Cyrus, ao final.
NOTA: ★★★★☆
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de setembro de 2025, edição nº 2963