Com figura misteriosa, ‘A Mulher no Jardim’ brinca com medos profundos
Terror do espanhol Jaume Collet-Serra cria jogos psicológicos em trama racial ambientada no campo

Uma mulher vestida de preto, coberta por um véu opaco, aparece no jardim de uma família moradora do campo. A mãe Ramona (Danielle Deadwyler) tenta tranquilizar os filhos, Taylor (Peyton Jackson) e Annie (Estella Kahiha). Distantes de um centro urbano e sem energia elétrica, eles ficam sem opção senão confrontar a figura misteriosa.
A premissa é a grande engrenagem de A Mulher no Jardim, terror do espanhol Jaume Collet-Serra, que cria jogos psicológicos para explorar — muito bem — o campo do inconsciente. Ao se levantar da cadeira, a sombra da mulher se projeta pelo gramado, chegando às janelas e ao interior da casa.
Com o uso de diferentes lentes, como uma grande angular, brinca com as proporções na intenção de propor o casarão como uma mente, que poderia ser de qualquer um, mas aqui é da protagonista, perturbada por um acidente que matou o marido.
Ao escalar atores negros, traz o teor racial e uma sutil reflexão sobre as classes no ambiente do campo. A proposta ganharia mais força se mais tempo fosse dedicado a um foco.
Quando Ramona descobre a proximidade com a mulher, vivida com elegância por Okwui Okpokwasili, e tem que tirar a limpo erros do passado, o filme toca o espectador, gerando identificação sobre os próprios demônios.
NOTA: ★★★☆☆
Publicado em VEJA São Paulo de 23 de maio de 2025, edição nº 2945