A educação inclusiva como um caminho para a felicidade
A pedagoga Fernanda King fala sobre sua trajetória e criação da Petit Kids, escola de educação infantil
Ser diretora de uma escola de educação infantil é um grande de- safio. Diariamente lidamos com as demandas das famílias que nos trazem suas dificuldades, entre tantas outras situações que fazem parte da nossa rotina. Ao passo que é delicioso ver o desenvolvimento dos pequenos, também é desafiador liderar, gerenciar e executar tantas outras funções que acabamos acumulando. Buscar o equilíbrio é fundamental nesse processo.
E toda essa história começou quando me vi mãe e confesso que não estava totalmente preparada. E quem está, não é mesmo? Para lidar melhor com tudo isso, precisei literalmente me reinventar. Eu era uma típica workaholic do mercado publicitário e me vi sem tempo de qualidade para dedicar à minha filha. Morando em São Paulo, com toda a família vi- vendo no Rio, só podia contar com a “escolinha” que ela começou a frequentar com apenas 4 meses de vida. Mas percebi que “faltava alguma coisa”. Por exemplo, não me sentia acolhida quando precisava tirar dúvidas e via que era tudo muito automático e superficial.
Foi aí que surgiu a ideia mais louca que já tive na vida: abrir minha própria escola de educação infantil. Agarrei esse sonho, com o propósito de unir o útil ao agradável. Empreender, estar mais perto da minha filha e fazer algo pelo nosso país, pois acredito que a educação básica seja a chave para uma mudança efetiva em nossa sociedade. E, se queremos evolução, temos de fazer a nossa parte.
Passei por inúmeras provações, porque ser empreendedora no Brasil é exaustivo, ainda mais com uma criança pequena a tira- colo. Me orgulho muito de tudo que construí, principalmente do acolhimento que podemos oferecer às famílias que fazem parte da nossa comunidade escolar.
No meio desse percurso e de tantos desafios, veio a questão da educação inclusiva.
Um mundo novo para mim na época, porém muito gratificante, porque, a partir do momento que temos entendimento do assunto e passamos a fazer diferença na vida desses alunos, é altamente motivador! Estudo muito sobre como podemos transformar a vida dessas crianças por meio de uma inclusão real e de uma proposta educativa eficiente para cada caso.
O mais importante é o olhar individualizado para cada aluno, o atendimento cuidadoso a essas famílias e ter uma equipe multidisciplinar muito bem preparada. Investir em cursos de formação para as educadoras é primordial, mas o afeto é fundamental na escola infantil. Quando a criança se sente segura e ama- da, tudo flui de maneira mais simples. Integrar é acima de tudo saber lidar com as singularidades e aproveitar as diferenças para formar seres humanos mais empáticos e capazes de respeitar a todos sem distinção.
Hoje posso dizer que me sinto realizada em ter uma es- cola para pequenos onde a diversidade é tão presente, desde nossas colaboradoras até os alunos e famílias. Posso falar que encontrei “a tal felicidade” em fazer a minha parte pela educação e pela inclusão em nosso país. Me sinto contribuindo para um futuro mais humano e igualitário. O sonho, que era “apenas” poder educar melhor a minha filha, hoje se multiplicou e acolhe os filhos de muitas outras pessoas, com toda a pluralidade que uma comunidade escolar deve ter.
Pedagoga com pós-graduação em desenvolvimento infantil, tendo formação especializada em educação infantil em Reggio Emília (Itália) e na Argentina, Fernanda King abriu a Petit Kids em fevereiro de 2015. Engajada na busca de uma forma de educar afetiva e acolhedora, acredita na educação inclusiva como um caminho para a felicidade.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br.