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Às quartas-feiras, Xan Ravelli, musicoterapeuta, especialista em comportamento e inteligência emocional, comunicadora, apresentadora de TV e empreendedora vai dividir com os leitores sua bagagem multifacetada, com reflexões sobre o amor e as relações na pós-contemporaneidade

“Ter um namorado é vergonhoso?”

Artigo viral da Vogue UK questiona a função e os constrangimentos de um relacionamento heterossexual

Por Xan Ravelli
5 nov 2025, 08h00
Novo constrangimento entre mulheres jovens: o de admitir um relacionamento heterossexual
Novo constrangimento entre mulheres jovens: o de admitir um relacionamento heterossexual (Freepik/Reprodução)
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Dias atrás, li o artigo da escritora britânica Chanté Joseph, “Is Having a Boyfriend Embarrassing Now?”, que movimentou a internet. Ela fala de um novo constrangimento entre mulheres jovens: o de admitir um relacionamento heterossexual. 

Por baixo do tom provocativo, o texto expõe o quanto a sociedade brasileira e nós, enquanto mulheres que vivemos aqui, carregamos uma ferida exposta pelo machismo latino-americano: perceber o quanto ainda somos moldadas pela lógica do amor como validação. 

Chanté escreve como uma mulher negra que conquistou autonomia e espaço, mas reconhece o peso de um sistema que sempre exigiu que tivéssemos “alguém”.

E é impossível não pensar na nossa realidade.

Aqui, no Brasil, para nós, mulheres negras, independência nunca foi discurso: foi sobrevivência.

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Nossas mães, avós e tias não puderam contar com homem nenhum para existir, elas sustentaram famílias, criaram filhos, alimentaram o país. Mesmo assim, até hoje, existe uma validação silenciosa quando uma mulher chega acompanhada.

E eu concordo que uma mulher negra sendo amada, postando sua foto num casamento feliz com um homem negro ao lado e crianças sorridentes é revolucionário num país que tem como plano nos exterminar há mais de um século. Mas o simples fato de “ter um homem do lado” não deveria ser fator predominante para que a sociedade julgue essa mulher digna da humanidade que o racismo insiste em tentar nos arrancar.

Nas redes, o debate virou espelho e catarse.

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A Adriana Ventura tuitou: “A gente amando os homens em voz baixa, quase em silêncio” e completou: “é sobre equilíbrio.” A Maju Torres celebrou “as garotas que são casadas ou namoram, mas pra quem o relacionamento é um detalhe, não o todo”.

Essas frases captam o espírito de um tempo em que o amor pode existir sem sequestrar a individualidade. Como escreveu uma outra usuária: “tem mulher que se afasta das amizades pra viver a instituição casal” e sabemos que isso não é uma raridade. 

Adriana Ventura em seu livro e suas redes fala da síndrome da escolhida, essa fantasia de que o amor romântico, especialmente o heterossexual e monogâmico, é o ápice da realização feminina. Mas quando olhamos de perto, essa estrutura serve mais à manutenção do patriarcado do que ao florescimento do afeto.

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Vivemos um mundo politicamente polarizado, onde até os modos de amar parecem ter filiação partidária. Ter ou não ter um relacionamento heteronormativo passa a ser lido como gesto de conservadorismo ou de progressismo. Mas é preciso lembrar que: casamentos sempre foram negócios, acordos sociais e políticos travestidos de destino romântico, e ainda é! O amor nunca esteve fora da política, porque desejar também é uma forma de escolher o que se acredita. No fim, o que atrai não é só a imagem, mas o que ela comunica: valores, repertórios, modos de estar no mundo.

E talvez seja por isso que vemos tantas mulheres dizendo “não” a vínculos, a performances, a culpas. Mulheres que falam abertamente sobre longos períodos sem sexo, sobre prazer sem par, sobre amor sem centro masculino.

bell hooks já dizia que o amor não é posse, é prática de liberdade. É bonito ver mulheres reconhecendo que o amor não precisa pedir desculpas pra existir fora da norma.

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Que dá pra amar e ainda assim caminhar inteira. Mas será que numa relação heteronormativa temos homens com coragem suficiente para amar uma mulher inteira? 

Talvez o novo amor revolucionário não seja o que se exibe como troféu, mas o que se constrói com autonomia, sinceridade e coragem.

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