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Por que você ainda vai trocar suas garrafas por um growler

No último post – já um tanto longínquo, eu sei, atraso esse motivado em boa parte pelo início das aulas aqui em Harvard, nos EUA –, havia comentado sobre uma maneira mais ambientalmente adequada de consumir chopes em casa e, de quebra, aproveitar seu frescor. Já ouviu falar de growlers? Aqui na terra do Tio […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 21h00 - Publicado em 9 set 2014, 10h48
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Modelo de growlers de vidro começou a ganhar força nos EUA no final dos anos 80

No último post – já um tanto longínquo, eu sei, atraso esse motivado em boa parte pelo início das aulas aqui em Harvard, nos EUA –, havia comentado sobre uma maneira mais ambientalmente adequada de consumir chopes em casa e, de quebra, aproveitar seu frescor. Já ouviu falar de growlers? Aqui na terra do Tio Sam, esses recipientes de vidro em formato de galão com tampa removível já são uma tradição cervejeira consolidada – é difícil achar uma cervejaria ou brewpub (que fabrica receitas e as vende no mesmo local) que não tenha sua fila para enchimento de growlers.

O ancestral do growler como o conhecemos hoje surgiu no final do Século 18 e se assemelhava a um balde com uma tampa. Ela foi assim chamada pelo barulho que o gás carbônico da cerveja fazia ao forçar sua saída do recipiente quando o líquido era agitado. No final dos anos 80, começou a ganhar força o formato moderno da embalagem, em vidro e similar a um galão com alça.

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Uma das primeiras providências que tomei quando cheguei aos EUA foi procurar uma microcervejaria que vendesse growlers. De preferência, a mais perto possível de casa. Acabei escolhendo a Trillium, em Boston – e violando um pouco a regra da distância – por um motivo estratégico: eles vendiam growlers de 943ml como alternativa aos maiores, de quase 1,9 litro. Optei pelo menor para ter mais flexibilidade, ou seja, provar um número maior de receitas diferentes sem ter de tomar quase dois litros por compra.

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Diferença do growler para o chope servido na hora é pequena, apenas com um pouco de perda de gás

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O fator tempo é estratégico no caso dos growlers. Embora ele possa conservar com boa qualidade o chope por cerca de uma semana, se mantido fechado e refrigerado, perde o gás rapidamente após ser aberto pela primeira vez. O ponto positivo, porém, é que ele permite o consumo, em casa, de chopes, que ganham em frescor da cerveja engarrafada, já que, em tese, não viajam além da distância entre a cervejaria e a residência do cliente.

A manutenção dos recipientes é simples. O cervejeiro da Trillium explicou que basta lavar o growler – com água e sabão, enxaguando muito bem, ou com água quente – para reutilizá-lo. As cervejarias, em geral, possuem adaptadores nas torneiras de chope, em formato de mangueiras, para enchimento dos growlers. Essas peças impedem que a espuma tome conta do vasilhame caso o líquido caia dentro dele de uma altura muito grande.

Já a vantagem econômico-ambiental do uso do growler é mais complexa. O vasilhame que comprei custou, sem chope dentro, US$ 5 – o grande, curiosamente, era o mesmo preço. Minha embalagem equivale a quase três long necks de 330ml, que, se fossem devolvidas vazias à loja, renderiam a devolução de US$ 0,15, ou US$ 0,05 por unidade de uma taxa cobrada dos clientes por uma legislação local, sobre a qual falei no post anterior. Uma conta fria indica que eu poderia tomar 99 long necks sem devolvê-las para pedir o reembolso e, ainda assim, isso teria custado menos do que o growler. Mas é preciso considerar outros itens, que muitas vezes não têm ligação direta com nossa carteira, como os custos de produção do vidro, sua reciclagem, transporte da fábrica ao ponto de venda e depois para as centrais de triagem de embalagens etc. Isso causa impacto no preço produtos e, até, nos impostos, via serviços de limpeza urbana.

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Cervejarias usam mangueira para evitar que enchimento do growler forme muita espuma

No Brasil, lembro-me de duas cervejarias como pioneiras do uso de growlers: a Eisenbahn, de Blumenau (SC), e a Abadessa, de Pareci Novo (RS). A primeira usa embalagens de cerâmica produzidas em Santa Catarina. Já a Abadessa importa da Alemanha recipientes de vidro. Outras cervejarias nacionais operam com enchimento de growlers para clientes, mas a única que faz isso atualmente de forma sistemática e anunciada é a Bodebrown, de Curitiba, que reserva os sábados para a atividade. Em São Paulo, locais como a Cervejaria Nacional e o Empório Alto dos Pinheiros também atendem donos de growlers. Um ponto crucial para que o sistema seja interessante ao consumidor é o preço: o litro do chope que irá para a casa do cliente num growler deve ser mais barato do que se ele fosse consumido ali mesmo, no bar ou cervejaria.

Por fim, um fator importante: o chope muda muito no growler, se comparado ao chope servido na hora? Tomei uma India Pale Ale (IPA) no growler da Trillium dois dias depois de tê-lo comprado. Na data do enchimento, provei a mesma cerveja tirada na hora da chopeira. Percebi uma diferença, sutil, na carbonatação – a IPA do growler parecia ter um pouco menos de gás. Mas o aroma se manteve com a mesma força de lúpulo cítrico de que me lembrava.

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