MAM celebra seus 72 anos com painéis em 140 pontos de ônibus
Sem poder abrir suas portas, o museu vai exibir imagens das obras de seu acervo pelas paradas da capital
A partir de terça (18), imagens de obras do acervo do Museu de Arte Moderna (MAM) serão exibidas em 140 paradas de ônibus de São Paulo. Os painéis, que ficam em cartaz na capital até o dia 24, são parte de uma ação maior chamada MAM na Cidade. Trata-se de uma comemoração dos 72 anos da instituição, sem data para reabertura no Ibirapuera devido à pandemia. Na proposta, estão sendo negociadas ainda com a prefeitura inserções em telas no metrô e projeções em prédios. “Esse projeto é uma forma de as pessoas não ficarem esperando o museu reabrir para ter a experiência de refletir sobre arte. Não substitui uma exposição, mas, a partir desse gesto, o visitante pode se sentir estimulado a ir ao MAM assim que for possível”, explica o paulistano Cauê Alves, empossado curador da instituição no último dia 13 de julho. Ele também detalha o caráter do projeto: “Tem um pouco de ação educativa, curatorial e de comunicação. É um pouco do que estou querendo levar para o MAM. O marketing não pode ser uma ação isolada para fortalecer a marca. Só se fortalece uma marca com conteúdo”.
A seleção de obras para os painéis de mobiliário urbano buscou trazer para o público diferentes facetas do museu. Dessa forma, trabalhos dos pintores Tarsila do Amaral (1886-1973) e José Antônio da Silva (1909-1996), pertencentes à Coleção Tamagni, a primeira doada ao MAM, estão junto da produção de nomes contemporâneos. São exemplos Cildo Meireles e Regina Silveira, que assina Destrutura Urbana 8. “Fotografias também integram esse conjunto. Desde a gestão do Tadeu Chiarelli, entre os anos 1996 e 2000, temos uma coleção bastante numerosa e relevante de fotos. Esse tipo de obra se adapta melhor à ação, já que tem na sua origem essa relação com a multiplicação”, aponta Alves. Além das imagens, os painéis contarão com QR codes. Quando acessados, levarão os “visitantes” a um podcast criado no Spotify. Lá, será possível ouvir explicações sobre as obras narradas por vozes ilustres, como a dos cantores Arnaldo Antunes e MC Soffia. “Gostei muito de falar do trabalho da Rosana Paulino (uma xerografia e linha sobre tecido, datada de 1997). A peça trata do empoderamento das mulheres negras por meio de linhas e agulhas. Tem tudo a ver comigo. Ela milita com as artes plásticas e eu, cantando”, diz a rapper. “Eu não frequento muito museus. Já fui com a minha escola. Vou quando as exposições são de artistas pretos”, conta Soffia .Indagada sobre um nome que gostaria dever no MAM, a paulistana, de 16 anos,responde: “O Samuel de Saboia. Ele é ótimo, maravilhoso, acho que deveria estar lá, porque o trabalho dele é superimportante. Eu já fui a uma mostra dele numa galeria, mas o lugar era bem fora de mão”.
A viabilização do projeto MAM na Cidade se deve a uma parceria pró-bono (em benefício público) da instituição com a agência de publicidade Africa, cujo copresidente e CCO (diretor de comunicação), Sergio Gordilho, é também conselheiro do museu, e com a Otima, plataforma voltada para mídia em ambientes externos. Essa última detém a operação de publicidade dos painéis estáticos e digitais nos quais as imagens serão apresentadas. “A Otima é a empresa parceira que está bonificando a agência nesse projeto. Ela está com parte de seu inventário dedicada para apoiar causas, empresas e instituições que estão sendo prejudicadas pela crise atual”, detalha o museu em nota, sem abrir valores sobre uma estimativa de orçamento. Se houvesse necessidade de investimento direto do MAM na iniciativa, talvez ela não saísse do papel. Isso porque a instituição enfrenta uma forte queda na arrecadação neste ano, situação semelhante à de outros espaços culturais. Antes do fechamento temporário, a entrada custava 10 reais e a média de visitação mensal era de 17.000 pessoas. Desde março, o MAM demitiu treze funcionários de seu quadro. No Masp também houve baixas, 21 pessoas foram desligadas. “Museus e instituições culturais exercem um papel social de extrema importância. Durante uma crise, porém, eles são infelizmente uns dos primeiros a ser negligenciados. Organizações com o poder de ajudar podem e devem apoiar o setor cultural que passa hoje por um momento sem precedentes”, conclui Gordilho.