Quem são os gêmeos por trás das telas cheias de suspense do interior de SP
Autodidatas, Letícia e Cirillo pintam em um ateliê improvisado na sala da casa onde vivem com seus pais

Depois de compartilhar o mesmo útero, os irmãos gêmeos Letícia e Cirillo Tangerina Bruno, 26, trabalham no mesmo ateliê, dividindo pinceis, telas e tintas. O espaço improvisado fica na sala da casa onde vivem com seus pais, na cidade de Porto Ferreira, a três horas da capital paulista. A união é tanta que eles deixam seus primeiros nomes para trás quando assinam suas obras e usam seu sobrenome, o intrigante Tangerina Bruno.
Apesar de ter pouco mais de 5 anos de carreira, a dupla tem sido bem recebida na cena artística. Já expuseram no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Mam-Rio) e participaram de uma mostra coletiva no espaço Auroras, que tem se notabilizado por exposições de nomes importantes, como o americano Melvin Edwards, que ganhou uma exposição no Masp, e os brasileiros Lais Myrrha, Carmela Gross e Antonio Dias.
“Primeiro, a gente foi para o artesanato. Depois com 17, 18 anos, foi para customização de itens e cenografia. Em 2008, tivemos aulas com o Andrey Rossi. Começamos com os materiais que tínhamos à mão, tudo na força de vontade”, relembram. O primeiro passo nesse percurso foram releituras de obras de Edgar Degas (1834-1917), Eugène Delacroix (1798-1963) e Candido Portinari (1903-1962), encomendadas pelo Sesi Porto Ferreira. “Foi aí que a gente teve o estalo de que queria desenvolver um trabalho em pintura”, explica Cirillo.
Outro desdobramento foi descobrir o rumo que tomariam nessa empreitada. “A gente queria desde sempre falar da gente. Primeiro, usava personagens fictícios e muita colagem de imagens. Depois, começamos a nos colocar mais e houve um aprofundamento. De repente, surgiram outras questões, como o medo”.
Para quem espera estreita verossimilhança, um aviso: as telas de Tangerina Bruno são recheadas de toques fantásticos, com um quê de suspense e nomes curiosos, vide a mais antiga É como se fosse… (2013) e uma das mais recentes Queimadura de sol de terceiro grau (2017), que você vê abaixo.


Outro ponto que chama atenção na trajetória da dupla é o autodidatismo, eles não cursaram graduação na área e nem pretendem (pelo menos por enquanto). “Vamos produzir e ver no que dá. Se a gente for para faculdade, talvez vamos ter que nos separar e não é isso que a gente quer”, explica Letícia. Cirillo logo completa: “Nossas vozes se sobrepõem. O trabalho é feito a quatro mãos e duas cabeças. Quando a gente pinta, viramos uma terceira pessoa.” A receita tem dado certo. Em 7 de junho, o Museu de Arte de Ribeirão Preto abre seu programa de exposições com dois trabalhos da dupla.