Mudanças de recursos de acessibilidade com a pandemia
Confira as alterações pretendidas por centros culturais, a exemplo da Japan House e Itaú Cultural
A questão da acessibilidade de pessoas com deficiência visual, auditiva e cadeirantes, se apresenta como um desafio no cenário pós-pandemia em museus, com a recomendação do uso obrigatório de máscaras, que vedam a leitura labial, e a redução de itens de uso coletivo, como as placas com textos em braile.
No Instituto Itaú Cultural, estuda-se a distribuição de fones de ouvido individuais para o acesso a vídeos de audiodescrição. “Será parecido com o que acontece no avião. A gente distribui os fones no começo da viagem, que no nosso caso é a exposição, e os visitantes os devolvem no fim do trajeto. Esses acessórios voltarão ao uso só quando forem devidamente esterilizados”, detalha Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural. Máscaras com tecidos transparentes, usadas pelos orientadores de público na condução de visitantes surdos ou mudos, também estão nos planos da instituição, que tem um grupo de trabalho sobre acessibilidade desde 2012. “Vamos aumentar a potência da nossa internet, para que os visitantes acessem os conteúdos via QR code de seus aparelhos”, acrescenta Saron.
Vizinha do Itaú Cultural, a Japan House tem pensado igualmente em adaptações de recursos de acessibilidade. “A maquete tátil do prédio poderá ser higienizada a cada uso. Ainda não temos as especificações do produto, mas isso está em andamento”, afirma o presidente do espaço, Erick Klug. Quanto aos materiais em braile, o gestor estuda possibilidades, como a confecção de folhetos descartáveis, em detrimento do antigo, de papel, ou um informativo que tenha o plástico como suporte. A disponibilização de potes de álcool em gel em cada estação é outra solução, mais simples, dada pela consultora em audiodescrição e acessibilidade Lara Souto. Questionada sobre as ferramentas que podem ser empregadas no “novo normal”, ela faz uma provocação: “E o que pode ser feito hoje?”, ao que responde: “Antes dos museus reabrirem, é preciso saber se o site, o Instagram e o Face- book têm imagens com descrições, se a live tem intérprete de libras e legendas para surdos oralizados”.
Além do uso desses e de outros recursos, ela destaca a recepção desses grupos nas instituições culturais. “Uma vez fui a uma palestra sobre acessibilidade arquitetônica. Chegando lá, perguntei a um segurança onde ficava a sala da atividade. Ele respondeu: “Lá”. Lá para mim não significa nada”, diz ela, que é portadora de deficiência visual. “A pandemia aprofunda o problema. Você ouviu histórias sobre pessoas com deficiência durante a crise? Fala-se de racismo, machismo e homofobia, você já ouviu falar de capacitismo (preconceito contra porta- dores de deficiência)?”, diz ela, antes de concluir: “Não somos incluídos nessas e em muitas outras narrativas”.