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Conheça super-heróis voluntários que visitam crianças em hospitais

Eles encontram brechas nas suas agendas de trabalho e alguns gastam até 20 000 reais para caprichar nas fantasias

Por Clayton Freitas
13 out 2023, 06h00
Visita: integrantes da ONG Heróis do Bem em ação no Sírio Libanês
Visita: integrantes da ONG Heróis do Bem em ação no Sírio Libanês (Leo Martins/Veja SP)
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Embarcado em uma plataforma a cerca de 180 quilômetros da costa norte do estado do Rio de Janeiro, o alpinista industrial Miguel Rette Ibane Neto (foto abaixo) virá a São Paulo e descerá do alto do prédio do Sabará Hospital Infantil, em Higienópolis, para aparecer nas janelas vestido do personagem Pantera Negra da Marvel, tal como faz há cinco anos. “Várias vezes choramos atrás da máscara. É gratificante ver o sorriso delas (crianças)”, afirma. Em algumas visitas o Pantera Negra tem a companhia da Supergirl, encarnada por Meire Rute Santos de Melo, a Meire Alpinista, funcionária de uma empresa que limpa janelas de prédios. “Nosso poder é o de arrancar um sorriso de cada rostinho”, afirma. Para a médica Daniella Bomfim, diretora técnica do Sabará Hospital Infantil, as visitas de voluntários que se vestem de super-heróis são terapêuticas. “É fundamental proporcionarmos momentos que possam tirar o foco da criança da doença e do sofrimento, certamente estamos protegendo, de alguma forma, seu bem estar físico e emocional.”

Pelo vidro: Miguel se veste de Pantera Negra e aparece nas janelas
Pelo vidro: Miguel se veste de Pantera Negra e aparece nas janelas (Luciana Paim/Hospital Sabará/Divulgação/Divulgação)

Embora não seja a regra nem o caso de Miguel e Meire, muitos começaram a atuar após enfrentar dramas familiares, como ocorreu com a enfermeira esteta Patrícia Leite. Nascida em 2009 já com câncer nos rins, sua filha estava passando por uma das várias internações a que se submeteu (teve vários episódios de câncer) e pediu para receber a visita de um super-herói. Patrícia pesquisou e descobriu que o corretor de imóveis Rogério Ferroni se vestia de Capitão América. Após a visita, a menina sentiu-se mais animada, segundo a mãe. Foi daí que Patrícia decidiu entrar para o voluntariado como Mulher-Maravilha. Neste ano ela ganhou a companhia de uma jovem heroína, a sua filha, Brhianna Sophia Leite Cortinhas, a Bibi. Após se recuperar e conseguir desenvolver a maior parte de suas atividades, Bibi disse à mãe que também gostaria de ser voluntária e pediu que Patrícia comprasse uma fantasia de Aranha-Gwen para também fazer visitas. “É divertido. Como criança eu me conecto mais com elas. E também é uma terapia”, diz Bibi. Ambas reforçam o time liderado por Ferroni. Ele conta que tudo começou há oito anos, quando sua mulher estava grávida e perdeu o bebê. Triste, ao sair do quarto do hospital e descer as escadas, ele avistou uma criança sentada em uma cadeira de rodas, tomando soro. Ferroni diz que logo associou a imagem à saga do jovem militar dos quadrinhos da Marvel Steven Rogers, o personagem que após tomar um soro transforma-se no Capitão América. Ele não economizou para ser fiel à caracterização do personagem. Ao todo, conta já ter gastado 20 000 reais na fantasia e assessórios. Patrícia diz ter investido do próprio bolso 9 000 reais para importar uma fantasia de uma empresa canadense que produz licença da DC para réplicas, as mesmas usadas por Gal Gadot, intérprete da heroína no cinema.

Ferroni e Patrícia fundaram uma ONG, o Instituto Heróis do Bem, que se especializou em visitar crianças com câncer em hospitais. Uma dessas visitas, que contou com a participação de Bibi, ocorreu na última terça (10) no Sírio-Libanês (foto que ilustra a abertura desta reportagem). A ONG conta atualmente com voluntários que encarnam 25 personagens.

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